Escândalo na Petrobras atinge políticos da coligação de Dilma

Escândalo de corrupção na petrolífera implica grandes nomes da maioria PT-PMDB no Congresso brasileiro, que serão agora investigados.

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A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, está sob pressão por causa do escândalo na Petrobras REUTERS/Joedson Alves

O procurador-geral do Brasil implicou altos responsáveis políticos do Congresso brasileiro na investigação sobre o escândalo de corrupção na empresa petrolífera estatal Petrobras. Rodrigo Janot entregou na noite de terça-feira uma lista de 54 nomes ao Supremo Tribunal Federal. Os envolvidos serão presentes a inquérito, caso o tribunal aprove a lista do procurador, como se espera que aconteça nos próximos dias.

O conteúdo da lista não é ainda conhecido através de canais oficiais, mas a imprensa brasileira avança que os dois topos hierárquicos das duas câmaras do Congresso brasileiro, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, fazem parte do rol de suspeitos. Os dois são, respectivamente, o presidente da Câmara dos Deputados e o presidente do Senado, e são ambos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), parceiro que forma a maioria no Congresso com o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff.

Espera-se que a lista de Janot implique mais nomes de políticos em actividade no Congresso brasileiro, incluindo líderes partidários da maioria PT-PMDB, assim como membros do principal partido de oposição, liderado por Aécio Neves, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e do Partido Progressista (PP). Rodrigo Janot enviou um pedido ao Supremo Tribunal Federal para que os nomes sejam divulgados assim que se aprovem os processos de inquérito.

Desde Janeiro que se esperava a lista de Rodrigo Janot. Até agora, o cerco policial concentrou-se sobretudo nos empresários suspeitos de pagarem “luvas” aos responsáveis da Petrobras em troco de contratos com a petrolífera. Em causa estão também operações de manipulação de preços.

Mas as suspeitas sempre existiram em torno de responsáveis políticos. A lista de Janot dá esse passo final, que liga empresas de construção, responsáveis da Petrobras e dirigentes políticos. Os nomes que se vierem a confirmar na lista enviada esta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal ainda não serão constituídos arguidos. O procurador-geral não terá ainda provas suficientes para avançar para julgamento, uma vez que o pedido de Janot é apenas para que se abram processos de inquérito.

Uma das consequências mais perigosas para a cúpula do PT foi posta a nu por Pedro Barusco, um antigo responsável de topo da petrolífera, que em Fevereiro acusou o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, de ter retirado cerca de 200 milhões de reais (à volta de 179 milhões de euros) através de esquemas dentro da Petrobras directamente para os cofres do partido. Desconhece-se até agora se se encontra na lista de Janot o nome de João Vaccari Neto. O tesoureiro do PT desmentiu sempre o envolvimento no caso.

O culminar da investigação
A lista de Janot representa o culminar de uma investigação em curso desde o início de 2014 e que pode prolongar-se por vários anos em julgamentos. Um dos principais desenvolvimentos da investigação foi a detenção de um ex-director da Petrobras Paulo Roberto Costa e de Alberto Yousseff, doleiro (termo utilizado para descrever alguém envolvido na compra e venda de divisas no mercado paralelo).

A imprensa brasileira afirma que é com base nos acordos de delação destes dois detidos que as autoridades chegaram aos nomes dos responsáveis políticos e empresariais suspeitos de estarem envolvidos no esquema de corrupção. No final de 2014, as autoridades brasileiras detiveram 11 executivos de seis das maiores empresas de construção do país.

Não são conhecidos os valores exactos que a Petrobras terá perdido com o alegado esquema de corrupção. Nem tão-pouco se sabe o valor actual do património da estatal brasileira, que está  impedida de lançar relatórios de auditoria. Contudo, a BBC diz que a petrolífera pode já ter perdido cerca de 90 mil milhões de euros só devido à desvalorização em bolsa. Isto representa um sério risco para a Petrobras, que na semana passada viu a agência de notação financeira Moody’s baixar a nota de crédito da petrolífera para o nível “especulativo”. 

Dilma sofre com processo
Dilma Rousseff já veio apoiar publicamente o processo de investigação à Petrobras – apelidada pelas autoridades como operação “Lava-Jato”. No entanto, e embora não tenham surgido até hoje quaisquer suspeitas sobre o seu envolvimento, este processo tem vindo a corroer a imagem da Presidente do Brasil.

É que Dilma Rousseff foi presidente do conselho de administração da petrolífera durante sete anos – de 2003 a 2010 –, período durante o qual se suspeita terem ocorrido muitos dos casos agora investigados. Mesmo que o seu nome esteja fora da lista de suspeitos, Dilma vê-se a braços com explicações difíceis: como é que, durante sete anos de presidência da Petrobras, Dilma não se apercebeu de uma alegada rede de corrupção empresarial e de pagamentos a políticos, ainda para mais do seu partido? 

Para além do mais, a liderança governamental de Dilma tem vindo a ser posta em causa pelo programa de ajuste fiscal concebido para atacar o fraco desempenho económico do Brasil em 2014 – que, espera-se, se prolongará durante 2015.

Notícia corrigida às 16h04: Dilma Rousseff foi presidente do conselho de administração da Petrobras e não presidente da empresa.

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