Líderes mundiais pedem investigação à morte de opositor

Responsáveis sublinham coragem de Boris Nemtsov para continuar a criticar o Presidente sem ceder a intimidações.

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Flores, imagens e mensagens pno local onde Boris Nemtsov foi assassinado na noite de sexta-feira Sergei Karpukhin/Reuters

Condenando um crime “horrendo” ou “cruel”, vários líderes mundiais pediram às autoridades de Moscovo uma investigação imparcial ao assassínio do opositor Boris Nemtsov.

O Presidente norte-americano, Barack Obama, pediu um inquérito “rápido, imparcial e transparente” para assegurar que quem executou e ordenou o assassínio do opositor Boris Nemtsov responda pelo “crime cruel”.

“Nemtsov era um defensor incansável do seu país, tentando que os seus compatriotas russos gozassem dos direitos a que todos os povos têm direito”, disse Obama numa declaração. Os russos “perderam um dos defensores mais dedicados dos seus direitos”.

Da Alemanha, um porta-voz de Angela Merkel deu conta da coragem do opositor para criticar frequentemente Vladimir Putin, e pediu “ao Presidente Putin para assegurar que o assassínio é investigado e os assassinos respondam na Justiça”. O Presidente francês François Hollande destacou também a coragem do “lutador anti-corrupção”.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou-se “chocado e horrorizado” com a notícia da morte de Nemtsov e disse que o homicídio tem de ser “completamente investigado, de modo rápido e transparente, e os responsáveis levados à justiça”. Sublinhou ainda que Nemtsov “nunca sucumbiu à intimidação” e continuou a “lutar pelo direito dos russos à democracia e liberdade, e ao fim da corrupção”.

Horas antes, o ex-chefe dos serviços secretos britânicos alertou para o perigo que é a falta de entendimento entre a Europa e a Rússia, dizendo que esta se está a tornar uma ameaça cada vez maior para o Reino Unido. “Não nos devemos enganar pensando que a Rússia está num caminho para a democracia porque não está.”

A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional pediu uma investigação “rápida, imparcial e eficaz” ao “assassínio a sangue frio de uma das vozes livres que as autoridades tentaram tão activamente silenciar”.

A organização lembra que “há já uma lista de assassínios e ataques políticos na Rússia”, cujas “investigações estão sob controlo pessoal de altos responsáveis políticos”. “Não podemos deixar que Boris Nemtsov seja apenas mais um nome nessa lista.”

As autoridades e os media apontaram várias linhas de investigação, desde a defesa de Nemtsov dos cartoonistas do Charlie Hebdo, o que o tornaria um alvo para islamistas até a ter sido a própria oposição a querer ter um mártir. O jornal russo Pravda punha a hipótese de Nemtsov ser um agente da CIA por fim morto pelos americanos – “90% de hipóteses”, garantia. Tudo, excepto o assassínio ter sido comandado por um apoiante de Putin, ou directamente pelo Kremlin.

Os opositores tanto culpam directamente o Kremlin como o ambiente de incitamento criado pelo Presidente. Não interessa se Putin deu a ordem para matar Boris Nemtsov", comentou o antigo campeão de xadrez e activista político Garry Kasparov no Twitter. Foi a ditadura de Putin. A sua propaganda sobre os inimigos do Estado 24 horas por dia 7 dias por semana.

O porta-voz de Putin, Dimitri Peskov, declarou que Nemtsov “não constituía nenhum desafio político para as autoridades” e sublinhou “se compararmos a popularidade, a aprovação de Putin [85%], Boris Nemtsov era pouco mais do que um cidadão comum”.

A jornalista da Voz da América Natasha Mozgovaya lembrava uma argumentação semelhante quando morreu a jornalista Anna Politkovskaia em 2006: de que a capacidade da vítima influenciar a vida política na Rússia era insignificante e o assassínio causava mais danos ao regime.

Até agora as autoridades russas dizem ter encontrado o automóvel em que teriam seguido os homens que dispararam contra Nemtsov, um Lada com matrícula da Ingushétia, uma república russa do Norte do Cáucaso.

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