Educadores de infância também têm dificuldades a Matemática

Inquérito desenvolvido pela Universidade do Porto dá conta que há salas em jardins de infância com sete crianças com Necessidades Educativas Especiais.

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Em 2013 estavam inscritas cerca de 252 mil crianças na pré-escolar Fernando Veludo/Nfactos

Expressão Musical e Matemática continuam a figurar entre as áreas em que os educadores de infância dizem sentir mais necessidade de formação, segundo revela um estudo da Universidade do Porto que será apresentado neste sábado na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Estas áreas já tinham sido identificadas como prioritárias num outro estudo desenvolvido pela mesma universidade em 2006.

A Matemática é uma das disciplinas em que os alunos sentem mais dificuldades ao longo do seu percurso escolar. Mais de metade dos 484 educadores inquiridos referiram sentir “bastante ou muita necessidade de formação” naqueles domínios. Por contraste foram poucos mais de 26% os que disseram o mesmo em relação às áreas de Formação Pessoal e Expressão Plástica.

O estudo foi encomendado pelo Ministério da Educação e Ciência. Dos 906 educadores seleccionados responderam ao inquérito 484, uma amostra que, alertam os autores, “não deve ser considerada representativa da rede nacional” do pré-escolar devido não só à elevada taxa de não resposta ao inquérito (47,6%), como à sobrerrepresentação de educadores da rede pública entre os participantes, já que a ausência de respostas foi particularmente significativa no privado (mais de 60% não responderam).

Em 2013, último ano com dados, estavam no activo cerca de 17 mil educadores de infância, dos quais pouco mais de sete mil trabalhavam no privado. Nesse ano estavam inscritos na educação pré-escolar cerca de 252 mil crianças.

Com o inquérito desenvolvido pela Universidade do Porto pretendia-se avaliar a implementação das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, aprovadas em 1997, e a qualidade neste nível de ensino. No diploma que aprovou aquelas orientações especifica-se que constituem “um conjunto de princípios para apoiar o educador no processo educativo a desenvolver coma s crianças”, tendo sido definidas três áreas: formação pessoal e social; expressão e comunicação, onde estão incluídos os domínios da linguagem e da matemática; e conhecimento do mundo.

No geral os educadores inquiridos indicaram “sentir necessidade de formação em todas as áreas/domínios” das orientações curriculares. Para Isabel Lima, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que coordenou o estudo, os resultados do inquérito mostram que a formação é uma das áreas de intervenção prioritária. “As necessidades de formação identificadas pelos educadores relevam das dificuldades que sentem na prática e esta informação é muito importante para planear respostas adequadas”, indicou ao PÚBLICO.

A outra área de intervenção prioritária que destaca a partir dos resultados apurados diz respeito às “crianças com necessidades específicas”. “A informação recolhida no que respeita a estas crianças pode ser muito relevante não só pela situação que revela destas, como também pelas dificuldades que os educadores dizem sentir”, frisa.

No relatório feito a partir dos resultados do inquéritos indica-se que “foram assinaladas 37,5% de salas que incluíam no seu grupo crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) e 48,5% como tendo problemas de desenvolvimento e/ou de comportamento, sem qualquer apoio”. Na rede pública, o número de crianças com NEE por sala varia entre 1 a 7. Já no privado “nenhuma sala tem mais do que uma criança com NEE”. 

A “proporção de crianças quer com NEE quer com problemas de comportamento/desenvolvimento em relação ao número total de crianças na sala, mostrou-se muito variável”, mas houve situações em que em que atingiu os 63,6% no primeiro caso e os 50% no segundo. “Estas percentagens merecem particular atenção, nomeadamente quanto ao planeamento de recursos no âmbito da Educação Especial”, alertam os autores.

Os educadores foram também questionados sobre as suas necessidades de formação em áreas que extravasam as definidas nas orientações curriculares. A liderar a tabela surge precisamente a Educação Especial. Quase 60% dos inquiridos indicaram sentir “bastante ou muita necessidade de formação” nesta área.

Por comparação a 2006, há também “uma maior percentagem de educadores que refere sentir necessidade de formação ao nível da transição para o 1.º ciclo, da avaliação e do envolvimento das famílias”. Apenas 158 educadores responderam à parte do questionário relativa ao envolvimento das famílias. Destaca-se a continuidade no recurso a "práticas passivas de envolvimento dos encarregados de educação”, sendo as mais frequentes a entrada destes na sala de aula e o envio de informações sobre as crianças para casa.  

Os autores do estudo referem a propósito que o envolvimento dos encarregados de educação “é referido pela maioria dos educadores como uma prática frequente, mas as estratégias mais utilizadas parecem indiciar que não se pretende deles um envolvimento activo”.

O inquérito confirma também que os educadores de infância, sobretudo os do ensino público, são um grupo envelhecido. A média de idades dos inquiridos ronda os 48 anos, existindo em média cerca de 11 anos de diferença de idades entre os educadores das redes pública e privada,

Em 2013, último ano com dados, mais de metade dos 8355 educadores da rede pública tinham 50 ou mais anos. Já no privado esta era a situação de apenas de 808 dos 7075 educadores em funções.  

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