Obama defende união e novas estratégias para desmontar propaganda jihadista

Presidente americano assegura que os EUA “não estão em guerra com o islão” e defende um combate mais eficaz aos extremistas nas redes sociais.

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“Temos de confrontar as ideologias distorcidas”, disse Obama JIM WATSON/AFP

Os Estados Unidos e os países que integram a coligação contra o Estado Islâmico “não estão em guerra com o islão, estão em guerra contra os que pervertem o islão”, assegurou o Presidente norte-americano, Barack Obama, ao mesmo tempo que reconheceu que muito mais tem de ser feito para contrariar as “falsas promessas” e a sofisticada propaganda usadas pelos jihadistas para recrutar jovens de todo o mundo.

Obama falava na conferência sobre “extremismo violento” convocada para Washington logo após os atentados de Paris, em Janeiro, uma reunião criticada tanto pela demora na sua realização como pela contínua recusa da Administração em associar as acções do EI ao radicalismo islâmico. Mas o Presidente americano insiste que é vital negar qualquer legitimidade religiosa aos jihadistas. Os dirigentes de grupos como o EI, afirmou no seu discurso, “não são líderes religiosos, são terroristas”, e “evidentemente não falam em nome dos mil milhões de muçulmanos”.

Essa é, porém, uma das mensagens que os jihadistas fazem chegar aos seus potenciais recrutas, utilizando a Internet e as redes sociais de uma forma que ultrapassa, em empenho e sofisticação, todos os grupos que lhes antecederam.

“Temos de confrontar de forma honesta e aberta as ideologias distorcidas que estes grupos usam para incitar as pessoas à violência”, afirmou Obama, considerando prioritário “amplificar as vozes da paz, da tolerância e da inclusão” através de uma nova estratégia de comunicação, sobretudo online, para responder aos que recrutam através de “vídeos de alta qualidade, das redes sociais e do Twitter”.

O problema é que o EI está um passo à frente dos governos e das organizações que lutam contra o extremismo, sublinharam vários intervenientes na conferência, a decorrer até esta quinta-feira. “Estamos a ser ultrapassados, tanto em termos de conteúdo, qualidade e quantidade, como em termos de estratégias de amplificação”, disse Sasha Havlicek, presidente do Instituto para o Diálogo Estratégico, um think-tank britânico que tem trabalhado com as grandes empresas de Internet ideias para responder à artilharia pesada da propaganda dos radicais.

Uma delas foi a criação de uma personagem fictícia, com o nome de Abdullah X, com o objectivo de desmontar a retórica dos extremistas – os seus vídeos foram inseridos em fóruns e contas dos jihadistas e os acessos foram tantos que o EI se viu obrigado a publicar “cinco páginas de refutação” dos argumentos de Abdullah X, explicou Havlicek.

Mas não é só online que a batalha de ideias deve ser travada. Nos países ocidentais, “os líderes muçulmanos têm de fazer mais para desacreditar a noção de que os nossos países estão empenhados em suprimir o islão”, afirmou Obama, acrescentando que é igualmente vital que os governos se empenhem numa melhor integração das comunidades muçulmanas e evitem que as medidas de combate ao terrorismo resultem na estigmatização dos seus membros.

No seu discurso, tal como num editorial publicado antes da conferência no jornal Los Angeles Times, o Presidente referiu-se ao assassínio, na semana passada, de três estudantes muçulmanos na Carolina do Norte. “Ainda não sabemos por que foram mortos estes jovens”, afirmou, “mas sabemos que muitos muçulmanos americanos estão preocupados e têm medo”.

Obama lembrou ainda o papel das escolas no combate ao extremismo, numa ideia que já antes tinha sido defendida pela presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, ao afirmar que, “por trás de cada percurso de radicalização, há um fracasso escolar”.

E ignorando a realpolitik a que a sua Administração não é alheia, o Presidente americano sublinhou que nada travará os jihadistas enquanto “o mundo não tiver nada melhor a oferecer aos jovens” que se sentem atraídos pela sua mensagem. “Quando os governos oprimem o seu povo, violam os direitos humanos, promovem o descontentamento e marginalizam grupos étnicos e religiosos, estão a alimentar as sementes do extremismo e da violência.”  

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