Bastonário dos médicos quer demissão de presidente da ARS de Lisboa

"Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o”, afirmou José Manuel Silva, reagindo às declarações de Cunha Ribeiro sobre o hospital Amadora-Sintra.

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José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos Enric Vives-Rubio

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) pediu esta quarta-feira a demissão do presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, na sequência de declarações sobre os problemas registados nas urgências do Hospital Amadora-Sintra. “Seguramente, está a informar mal o ministro da Saúde e não lhe dá oportunidade para, atempada e preventivamente, resolver os problemas dos hospitais que estão sob a sua responsabilidade. O presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, depois destas afirmações, deverá perder a confiança do ministro. Eu, se fosse ministro da Saúde, demitia-o”, afirmou José Manuel Silva, depois de receber uma delegação do PCP, encabeçada pelo secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa.

O representante dos médicos referia-se a afirmações de Cunha Ribeiro, que atribuiu os problemas naquela urgência a internamentos mais prolongados e à falta de médicos. O presidente da ARS-LVT disse que “o número de doentes que vai aos serviços de urgência não aumentou”, mas há “doentes mais graves, mais idosos” e com maior permanência nas instalações.

“Vinte e oito diretores de serviço demitiram-se, as chefias de equipa de urgência também apresentaram as suas demissões em Dezembro. Se calhar, essa pseudo-frase do presidente da ARS é que é capaz de estar errada. Eu pergunto o que será uma crise. Esta narrativa oficial de procurar minimizar e esconder a verdade é que continua a contribuir para que os verdadeiros problemas do país não sejam resolvidos. A preocupação da tutela ao não resolvê-los, é escondê-los”, continuou o bastonário, comentando a classificação de “pseudo-crise” por parte de Cunha Ribeiro.

Entretanto, foi anunciado que Helena Isabel Almeida é a nova directora clínica do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), após a demissão do anterior responsável e de 28 dos 33 diretores de serviço da unidade hospitalar, que se mostraram contra a ausência de estratégia para evitar a “contínua degradação das condições de trabalho”. “Disse o presidente da ARS-LVT - que, se calhar, devia ser demitido, mentiu -, que o hospital [Amadora-Sintra] contratava todos os médicos disponíveis. Não é verdade. No ano passado, dispensou proactivamente o único radiologista de intervenção que tinha, que foi trabalhar para Inglaterra, ganhar mais e com respeito pela qualidade e diferenciação do trabalho. Os doentes passaram a ser pior tratados e direcionados para outros hospitais”, exemplificou José Manuel Silva.

Segundo o bastonário da OM, a situação “é da exclusiva responsabilidade da tutela, do Ministério da Saúde, que impôs uma série de medidas e restrições” e, agora, “o hospital não pode funcionar milagrosamente”, pois, “se assim fosse, milagrosamente, a situação do país também seria bem melhor”. “Não teve a ver com nenhuma vaga de frio siberiana ou qualquer epidemia de gripe particularmente grave. Foi, de facto, reflexo da incapacidade de resposta do SNS e da ausência de planeamento para preparar o inverno. Mais parecia que o Ministério da Saúde estava à espera que o Inverno fosse uma Primavera e que não houvesse gripe”, criticou.


Para José Manuel Silva, “a congestão e todas as consequências e dramas vividos nos serviços de urgência na maioria dos hospitais do país tem uma justificação: a crise social secundária [que se seguiu] às medidas de austeridade e os cortes excessivos impostos ao SNS, impedindo a capacidade de resposta [número de camas, cuidados de saúde primários, cuidados continuados, número de profissionais de saúde]”. O bastonário da OM considerou ainda que “o problema não estava só no director clínico do Amadora-Sintra” e que o ministro da Saúde deveria também avaliar a gestão por parte do conselho de administração daquela unidade hospitalar.

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