Separatistas entram em Debaltseve e capturam soldados ucranianos

Autoridades de Kiev admitem que perderam uma parte da cidade e acusam rebeldes de estarem a "destruir a esperança de paz".

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Os rebeldes dizem que já conquistaram 80% da cidade Gleb Garanich/Reuters

Os separatistas pró-russos lançaram um assalto final para conquistarem a cidade de Debaltseve, no Leste da Ucrânia, onde milhares de civis e soldados do Governo ucraniano estão cercados, numa altura em que ambas as partes deveriam estar a remover o seu armamento pesado da linha da frente.

O acordo de cessar-fogo assinado na semana passada na capital da Bielorrússia, patrocinado pela chanceler alemã e pelo Presidente francês, entrou em vigor na passagem de sábado para domingo, mas os combates nas proximidades de Debaltseve não só não pararam como se intensificaram nesta terça-feira.

As autoridades de Kiev já reconheceram que os rebeldes conseguiram assumir o controlo de algumas zonas de Debaltseve, que é um importante nó ferroviário a meio caminho entre Donetsk e Lugansk, duas cidades que estão nas mãos dos separatistas pró-russos.

"Os combates prosseguem nas ruas, os rebeldes estão a atacar a cidade com grupos de assalto apoiados por artilharia e veículos blindados. Parte da cidade foi tomada pelos bandidos", lê-se num comunicado do Ministério da Defesa da Ucrânia, citado pela agência Reuters.

O cerco à cidade de Debaltseve já estava em curso há vários dias, mas nas últimas horas começaram os combates nas ruas, com os líderes dos separatistas a anunciarem a rendição e captura de pelo menos três centenas de soldados ucranianos – as autoridades de Kiev admitem que alguns dos seus soldados foram capturados, mas num número muito inferior, e todos "em emboscadas".

Um dos comandantes rebeldes, Eduard Basurin, deu a entender que as suas forças estão prestes a assumir o controlo total da cidade: "Oitenta por cento de Debaltseve já estão em nosso poder. Está em curso uma operação de limpeza da cidade."

O cessar-fogo parece estar a ser cumprido na generalidade da linha da frente, mas a violência da excepção que é Debaltseve levou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, a constatar o óbvio – partes "fundamentais" do acordo assinado em Minsk "não estão a ser respeitadas".

Também nesta terça-feira, o porta-voz da Presidência da Ucrânia, Valeri Chali, pediu aos líderes que participaram na conferência da semana passada – mas também à União Europeia e à NATO – que "protestem com veemência contra as acções dos rebeldes".

"Eles estão a destruir a esperança de paz. Esta escalada ameaça não só a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, mas também a segurança da Europa", disse o porta-voz.

A batalha pela conquista de Debaltseve tem sido o principal entrave à concretização do cessar-fogo e ao início do difícil caminho em direcção à paz que ambos os lados têm pela frente – o facto de os combates não terem parado naquela cidade leva o Governo ucraniano a dizer que não vai retirar as suas armas enquanto o cessar-fogo não for cumprido integralmente, enquanto os separatistas pró-russos dizem que só vão recuar quando tiverem provas de que o Exército ucraniano começou a fazer o mesmo.

Os representantes dos rebeldes separatistas sempre disseram que Debaltseve deveria ser integrada no território que já conquistaram nas províncias de Donetsk e Lugansk, por estar cercada. Por seu lado, o Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, negou sempre a existência de um cerco e afirmou que a cidade estava sob controlo das suas tropas.

Desde o início da guerra no Leste da Ucrânia já morreram pelo menos 5600 pessoas, a maioria civis, e quase 13.000 ficaram feridas, segundo os números das Nações Unidas. Todas as organizações admitem que os números podem estar subavaliados, e os serviços secretos alemães estimam que podem já ter morrido 50.000 pessoas desde Abril do ano passado.

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