Europa quer manter a sua população judaica, dizem governantes a Netanyahu

Primeiro-ministro tinha apelado a uma “imigração em massa” para Israel

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Polícia a investigar o cemitério judaico de Sarre-Union, onde cerca de 250 campas foram danificadas FREDERICK FLORIN/AFP

Após os atentados em Copenhaga e a descoberta de 250 campas destruídas num cemitério judaico no Leste de França, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu apelou aos judeus europeus para que “imigrem em massa” para Israel, pois é o único local onde podem sentir-se seguros. O convite desencadeou respostas dos governantes em França, Dinamarca e Alemanha que se podem resumir nas palavras do primeiro-ministro francês, Manuel Valls: “A França não quer que se vão embora”.

França é o país europeu onde hoje vive a maior população de confissão judaica, 500 mil a 600 mil pessoas. Mas nos últimos anos, sobretudo desde os atentados de Mohamed Merah em Toulouse, em 2012, que incluíram o ataque a uma escola judaica, muitos judeus franceses estão a imigrar para Israel. Pela primeira vez, em 2014, mais judeus mudaram-se para Israel provenientes de França do que de qualquer outro país: cerca de 7000, ou seja, o dobro dos que o fizeram em 2013.

Esta não é a primeira vez que Netanyahu gera polémica com um convite deste tipo – fê-lo já em Janeiro, logo a seguir aos atentados em Paris, no qual morreram 17 pessoas, entre o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo e a um supermercado “kosher” (judaico). Agora pegou no assunto porque a agenda internacional o favorecia e o seu Governo aprovou um plano no valor de 40 milhões de euros para encorajar a imigração a partir de França, Bélgica e Ucrânia – países com uma grande população judaica e onde tem havido ataques anti-semitas.

“Espera-se que esta onda de ataques continue. Os judeus merecem ter segurança em todos os países, mas o que dizemos aos nossos irmãos e irmãs é que Israel é a vossa casa”, declarou Netanyahu, que espera obter um terceiro mandato nas eleições de 17 de Março, e que tem como tema principal da sua campanha a segurança de Israel.

Mas na Europa a resposta não foi muito favorável. Na Dinamarca, que salvou a maioria dos judeus na II Guerra, o rabi-chefe Jair Melchior disse estar “desapontado” com as declarações de Netanyahu. “As pessoas mudam-se porque amam Israel, por causa do sionismo. Mas não por causa do terrorismo”, disse à Associated Press. “Se a forma de lidar com o terror fosse fugir, mais valia irmos para uma ilha deserta.”

A primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt, sublinhou a necessidade de não perder esta população. “Os judeus fazem parte da Dinamarca, faremos tudo para proteger a comunidade judaica.”

Manuel Valls, a braços com a investigação da mais grave profanação de um cemitério judaico em França nos últimos 25 anos – 250 campas foram danificadas em Sarre-Union, no Leste do país – expressou o desgosto francês com as palavras de Netanyahu: “Lamento as suas declarações. Não vale dizer tudo quando se está em campanha. O lugar dos franceses judeus é a França”.

Cinco menores, entre os 15 e os 17 anos, foram detidos nesta segunda-feira por causa da destruição do cemitério de Sarre-Union, depois de um deles se ter ido entregar a uma esquadra, dizendo que os jovens pensavam que o cemitério estava abandonado.

A chanceler Angela Merkel pesou também nesta discussão, dizendo-se “feliz e reconhecida” por existir hoje uma comunidade judaica na Alemanha. “Faremos tudo para garantir a segurança dos cidadãos e das instituições judaicas”, assegurou. “Queremos que os judeus continuem a viver na Alemanha.” A comunidade judaica alemã tem hoje mais de 100 mil membros, quando na altura da queda do Muro de Berlim, em 1989, eram apenas 26 mil. Após a reunificação, a Alemanha abriu as suas portas à imigração de judeus das repúblicas da ex-União Soviética.
 

   

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