Alemanha e França protagonizam Europa a duas velocidades

A Alemanha surpreendeu e foi a estrela do crescimento na Europa no final de 2014. A frança voltou a desiludir.

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Economia dá mais razões a subir a Merkel do que a Hollande ODD ANDERSEN/AFP

Ao mesmo tempo que Angela Merkel e François Hollande parecem mais unidos do que nunca na condução da política europeia em relação à Ucrânia, as economias dos seus países acentuam a tendência de divergência que se tem verificado desde o início da crise do euro.

Os dados da variação do PIB no quarto trimestre de 2014 não deixam margem para dúvidas. A Alemanha surpreendeu tudo e todos e acelerou de um crescimento homólogo de 1,2% no terceiro trimestre para 1,5% no quarto. Em cadeia a subida do PIB foi de 0,7%, um dos mais altos em toda a União Europeia.

A França, pelo contrário, registou um crescimento em cadeia de apenas 0,1% e a variação do PIB face ao mesmo período do ano passado diminuiu de 0,4% no terceiro trimestre para 0,2% no quarto.

Na prática o que aconteceu foi que a Alemanha surgiu como o motor da aceleração registada na economia europeia no final do ano passado, enquanto a França, em conjunto com a Itália (que se manteve em recessão) contribuíram para que a zona euro continue ainda a um ritmo bem mais lento do que as outras grandes potências económicas mundiais.~

Esta quinta-feira, entre os analistas económicos dos principais bancos europeus assistia-se a uma divisão entre os que mostravam preocupação pela confirmação de uma economia europeia a duas velocidades e os que se mostravam mais optimistas em relação à possibilidade de a Alemanha conseguir puxar os seus parceiros franceses para o crescimento.

O optimismo resulta do facto de, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, a aceleração do crescimento económico na Alemanha se dever essencialmente à procura interna e não às exportações. As famílias estão a consumir mais e as empresas a reforçar o investimento. Num ambiente de taxas de juro mínimas, o apelo ao consumo e ao investimento parece estar finalmente a resultar.

Esta mudança na maior economia europeia, se acabar por se confirmar nos próximos meses, pode ajudar as outras economias europeias já que aumenta o mercado onde as suas empresas podem vender. Isso é verdade para pequenas economias periféricas como Portugal, mas é especialmente verdade para a vizinha França, que tem laços muito fortes com a Alemanha.

Os mais pessimistas, no entanto, assinalam que na França, a evolução da procura interna é a grande causa para o débil crescimento da economia. Nesse aspecto as esperanças estão depositadas no efeito das políticas expansionistas entretanto anunciadas pelo BCE, já que do lado da política orçamental, a França, à semelhança de muitas economias da zona euro, parece não ter à sua disposição instrumentos suficientes para mudar o actual cenário.

De acordo com as previsões mais recentes da Comissão Europeia, a França deverá registar uma taxa de crescimento de 1% durante o ano de 2015, uma revisão em alta face aos 0,7% que eram antes projectados. Bruxelas prevê que a taxa de desemprego em frança suba de 10,3% em 2014 para 10,4% em 2015.

Para a Alemanha, a previsão de crescimento para 2015 é de 1,5%, ao passo que a taxa de desemprego continuará a diminuir, passando de 5% para 4,9% e reforçando a sua posição como uma das mais baixas da Europa.

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