Partir sem regresso prometido

“Retirada apressada e desordenada de populações devido a ameaça ou perigo iminente”, é uma das explicações do dicionário para a palavra “fuga”. Outra: “Abandono rápido de um local onde se está habitualmente, para escapar a alguém ou a alguma coisa.” Terá sido esta a opção desesperada de milhares de civis ucranianos após a tentativa de tomada pelos separatistas do “importante nó ferroviário a nordeste de Donetsk”, nos últimos dias. Uma nação a tentar equilibrar-se no trapézio que sempre balança entre a Europa e a Rússia. Hoje, domingo, será dia de baixar as armas, segundo as notícias de quinta-feira: “Um cessar-fogo vai entrar em vigor na Ucrânia no próximo dia 15, anunciou o Presidente russo, Vladimir Putin, no fim de uma maratona negocial em Minsk. O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, diz que a Ucrânia deverá recuperar o controlo sobre a fronteira conjunta até ao final do ano.”
Não foi uma “fuga de informação”, ou seja, não se tratou da “acção de deixar escapar algo que se devia manter secreto”. Foi uma declaração pública, decorrente de um encontro promovido pelo chefe de Estado francês, François Hollande, e pela chanceler alemã, Angela Merkel. Mas logo foram avisando que não houve “consenso em todos os pontos” e que “grandes obstáculos” ficaram por ultrapassar.
Não está portanto garantido um regresso feliz aos que saíram em “debandada”.
“Fuga” também significa “subterfúgio” ou “acção de se esquivar, de uma forma subtil, ao cumprimento de uma obrigação”.
O melhor de todos os sentidos é o de “composição musical que resulta da combinação de linhas melódicas que se imitam, iniciando-se com um tema principal apresentado e desenvolvido por cada uma das vozes, segundo regras definidas (contraponto)”.
J.S. Bach foi mestre da “fuga”. Escutá-lo é promessa de regresso feliz. 

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