CGD reduz prejuízos apesar dos impactos da exposição ao GES

Nos primeiros nove meses do ano, o banco do Estado tinha registado lucros

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José de Matos, presidente da Caixa Geral de Depósitos
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José Matos, presidente da Caixa Geral de Depósitos Nuno Ferreira Santos

A Caixa Geral de Depósitos teve um resultado negativo de 348 milhões de euros em 2014, o que representa uma melhoria de 40% face a 2013 (prejuízo de 578,9 milhões). A exposição ao Grupo Espírito Santo, as exigências de avaliação do Banco Central Europeu (BCE) e a anulação de impostos diferidos foram factores determinantes na deterioração do balanço no último trimestre do ano passado.

"A economia portuguesa” digeriu “rapidamente” o impacto do terramoto BES-GES e da crise na PT, apesar de estarem em causa “situações que não foram boas para o país nem para a percepção que os mercados têm do país”, considerou o presidente da CGD. José Matos, que falava esta quarta-feira durante a conferência de imprensa de apresentação das contas de 2014, reconheceu que chegou a haver “alguma má reacção”, mas “os aspectos positivos sobrepuseram-se. E isso vê-se nos preços e nas taxas de dívida pública e nas taxas do mercado interbancário.” Matos reconheceu, ainda, que a solução encontrada para “resolver” o BES “tem um risco para o balanço” dos bancos portugueses e defende “que a venda [do Novo Banco] deve minimizar” o impacto negativo.

Nos primeiros nove meses de 2014, a CGD tinha apurado um lucro de 55,5 milhões, mas acabou a fechar com prejuízos de 348 milhões de euros, ainda assim emqueda de 40%. A melhoria ficou a dever-se ao acréscimo dos proveitos bancários, à queda dos custos operacionais e das provisões e imparidades e ainda à venda da actividade seguradora (Caixa Seguros) aos chineses da Fosun. Este negócio contribuiu com 287 milhões de euros. 

No balanço de 2014, a CGD trevela que as imparidades e as provisões totalizaram 949,6 milhões de euros, menos 15,6% do que o que foi contabilizado no ano anterior. Deste montante, mais de 400 milhões dizem respeito a perdas associadas à exposição às holdings do GES, “ao esforço de provisionamento ocorrido na sequência” da avaliação dos activos da banca por parte do BCE, bem como pelo impacto liquido da anulação de impostos diferidos "decorrente da redução da taxa de IRC” em 85 milhões de euros. A parte restante dos 949,6 milhões são imparidades associadas à actividade normal do banco. José Matos observou que, apesar dos vários constrangimentos, a CGD chegou a Dezembro com uma situação de capital adequada” com um rácio common equity tier 1  de 9,7% acima dos 7,6% registados em 2013.

José Matos recusou revelar detalhes da exposição da CGD ao GES, que herdou das anteriores administrações, apenas notando “que o valor é significativo” e que “até Julho”, quando o universo empresarial Espírito Santo declarou o colapso, “não tinha havido nem incumprimento e os juros estavam a ser pagos” nos prazos definidos. Admite-se que a exposição da CGD à esfera GES (empresas e holdings) fosse da ordem dos 300 milhões, e que as perdas possam situar-se entre 150 e 200 milhões de euros. Isto, porque os financiamentos estavam parcialmente garantidos com activos nomeadamente imobiliários.

"Vamos tentar acelerar o processo de redução de efectivos através de reformas antecipadas", anunciou o presidente da CGD, cujo quadro de pessoal registou em 2014 uma diminuição de 232 trabalhadores, grande parte via reformas antecipadas. E adiantou que a expectativa é “continuar a ter redução de efectivos porque ela é necessária. Será feita com grande tranquilidade". Em simultâneo, a CGD procede ao encerramento de agências (em Fevereiro fecharão 21) de modo a manter-se a operar com uma rede comercial de 726 unidades.

Prejuízos encolhem
A redução de prejuízos por parte do banco do Estado está em linha com os dados já revelados pelo BCP, que conseguiu também encolher de forma significativa o volume de perdas no ano passado. Já o BPI passou de lucros em 2013 para um prejuízo de 162 milhões de euros em 2014. O Santander Totta, que consolida contas com a casa-mãe em Espanha e, por isso, apresenta resultados que não são directamente comparáveis com os congéneres portugueses, quase duplicou os lucros no último ano.

O caso do BPI foi o que mais surpreendeu o mercado, ao apresentar um prejuízo de cerca de 162 milhões de euros. O banco liderado por Fernando Ulrich teve que incorporar nos resultados da actividade doméstica custos e perdas não recorrentes de cerca de 246 milhões de euros – sem este impacto, teria perdido apena 23 milhões na operação interna.

A actividade internacional acabou por amortecer a queda, gerando um resultado positivo de cerca de 126 milhões de euros. Este crescimento de 32,5% está essencialmente ligado à actividade em Angola.

Já o BCP conseguiu, em 2014, reduzir os prejuízos para 218 milhões de euros, muito abaixo dos 740 milhões apurados no ano anterior. A descida foi justificada pelo banco liderado por Nuno Amado com “a evolução favorável da rendibilidade da actividade em Portugal e o aumento do contributo das operações internacionais”.

No último trimestre do ano passado, aliás, o resultado recorrente do banco atingiu o break-even, segundo a informação divulgada e o resultado operacional mais do que duplicou, reflectindo o contributo da margem financeira, que aumentou 31,6%, ou seja, 272 milhões de euros. Os custos operacionais do BCP também caíram, cerca de 11%.

O Santander, com lucros de 193 milhões, é, até ao momento, o único banco a apresentar um resultado positivo. O crescimento face a 2013 é de quase 90% e é justificado pela instituição liderada por Vieira Monteiro com o crescimento de receitas e diminuição das imparidades (perdas potenciais) reconhecidas pelo banco.

O desempenho financeiro do Santander Totta foi também influenciado pela receita extraordinária de 32 milhões de euros obtida com as vendas das participações detidas pelo Santander Totta Seguros nas Aegon Portugal Não Vida e na Aegon Portugal Vida. Com José Manuel Rocha

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