Varoufakis apresenta-se na Alemanha como “o ministro das Finanças de um país falido”

Primeiro encontro na Alemanha foi com o presidente do BCE, com quem disse ter estabelecido “uma excelente linha de comunicação”.

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Yanis Varoufakis esta quarta-feira à saída do BCE REUTERS/Kai Pfaffenbach

Mario Draghi explicou a Yanis Varoufakis as regras e os constrangimentos do BCE ao financiar os bancos e os Estados da zona euro. Como resposta, o ministro das Finanças grego defendeu que a Grécia não pode ser tratada com um espírito de “negócios como habitualmente”.

Esta descrição do encontro desta quarta-feira entre Draghi e Varoufakis foi feita pelo próprio ministro das Finanças grego à imprensa, à porta da sede do BCE em Frankfurt. O presidente do banco central, contou o responsável político grego, “foi particularmente prestável ao explicar o mecanismo através do qual o BCE apoia os Estados da zona euro, incluindo a Grécia”, nomeadamente, “os constrangimentos, as regras, os regulamentos e os processos pelos quais a relação entre a Grécia, a zona euro e, claro, o banco central se deve reger”.

Pela sua parte, Varoufakis disse que teve “a oportunidade de apresentar [a Draghi] a completa e inabalável determinação do Governo grego de que não pode ser ‘negócios como habitualmente (business as usual)’ para a Grécia”.

O ministro das Finanças disse ainda que na sua conversa com o presidente do BCE “houve uma excelente linha de comunicação”, o que lhe dá “muito encorajamento para o futuro”.

Para as próximas semanas, o novo Governo grego tem vários temas a tratar com o BCE. Em primeiro lugar, Atenas pretende realizar uma emissão de dívida pública de curto prazo de aproximadamente 10 mil milhões de euros que lhe permita ter tempo para negociar, até Junho, um novo programa de apoio financeiro com os seus parceiros europeus. No entanto, neste momento, a Grécia já está no limite do montante de dívida pública de curto prazo emitida que lhe foi autorizado pela troika. Em particular, de acordo com o Financial Times, o BCE está particularmente relutante em aceitar que esse limite (de 15 mil milhões de euros) seja alargado.

Depois, o Governo liderado por Alexis Tsipras quer assegurar-se de que o BCE irá continuar a disponibilizar as linhas de financiamento de que os bancos gregos precisam, especialmente agora que estão a sofrer com uma nova saída de depósitos de larga escala. Como o rating do Estado grego está situado num nível “lixo”, o BCE exige que haja um programa da troika em vigor na Grécia para poder aceitar títulos de dívida grega ou títulos de dívida privados garantidos pelo Estado grego como colaterais nos empréstimos concedidos aos bancos. Se o programa grego terminar com actualmente previsto no final de Fevereiro e não for substituído por outro, a actual regra do BCE colocaria as instituições financeiras gregas em dificuldade.

Uma hipótese seria os bancos gregos recorrerem à Assistência de Liquidez de Emergência concedida pelo banco central grego. Para que isso aconteça, o BCE tem de o autorizar. Neste momento, três bancos gregos recorreram a mais de dois mil milhões de euros deste empréstimo de emergência, após autorização do BCE no passado dia 21 de Janeiro. Esta quarta-feira à tarde, o conselho de governadores do banco central volta a debater o assunto e a decidir se renova a autorização.

O encontro desta quarta-feira entre Yanis Varoufakis e Mario Draghi foi o primeiro do responsável político grego na Alemanha. Esta quinta-feira irá reunir-se com o seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, que caracterizou desde já como “uma força intelectual por trás do projecto da União Europeia”.

Ao mesmo tempo, na sua tentativa de convencer a opinião pública alemã da bondade das propostas do Governo Syriza, Varoufakis deu já entrevistas a vários meios de comunicação social.

Ao De Zeit explicou a recusa do executivo em concluir o actual programa da troika com uma comparação entre a Grécia e um trabalhador sem emprego. “Dar-lhe-iam outro empréstimo para que ele pudesse fazer os pagamentos para o empréstimo da casa? Isso não funcionaria. Eu sou o ministro das Finanças de um país falido”, afirmou Varoufakis.

E em relação ao receio de que se esteja a assistir a um recuo nas reformas exigidas pela troika, o ministro disse: “Os alemães têm de compreender que darmos mais 300 euros por ano a um pensionista que vive com 300 euros por mês não significa que estamos a fugir do caminho da reforma.” “Quando falamos de reformas, temos é de falar dos cartéis e dos gregos ricos que quase não pagam impostos”, disse.

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