Só se Deus for mesmo brasileiro

Só falta passar o Carnaval para que a nova classe média comece a fazer contas de diminuir.

Com tantas coisas a acontecerem na Europa, da nova crise grega ao terrorismo e à Rússia, o Brasil saiu do nosso radar. E, no entanto, o que lá se passa não é agradável. Dilma Rousseff ganhou as eleições em Outubro (por uma unha negra, é verdade), tomou posse a 1 de Janeiro e, desde então, tudo parece que se complicou para o seu segundo mandato, contrariando linha a linha o seu programa eleitoral e, suprema ironia, obrigando-a a adoptar, quase inteira, a agenda política de Aécio Neves, o seu rival derrotado. A economia estagnou, a inflação disparou, os preços subsidiados (da gasolina ou da electricidade) subiram, as taxas de juro também. O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já tinha apresentado um “programa de ajustamento” com medidas até agora impensáveis para reduzir os gastos do Estado. De um momento para o outro, a economia brasileira, que parecia sólida, revela todas as suas fragilidades, com uma evidência que até surpreende os mais pessimistas. O recente “apagão” em São Paulo veio revelar uma estrutura eléctrica cheia de problemas. A falta de água igualmente em São Paulo e noutras grandes metrópoles (por causa da seca) começa a deixar as pessoas em pânico. E, acima de tudo, o que está a acontecer com a Petrobras é quase inimaginável. A maior empresa estatal do Brasil e uma das suas imagens de marca está a cair aos bocados. Não por causa do preço do petróleo (que também ajuda), mas por causa de um escândalo de corrupção que deixa o “mensalão” a milhas de distância. Os estilhaços chegaram a Portugal, como o PÚBLICO revela nesta terça-feira numa entrevista a um empresário que se viu envolvido no esquema. A Petrobras já perdeu uma parte significativa do seu valor de mercado. A queda do preço do petróleo pôs em causa a exploração do pré-sal, que Dilma anunciava como panaceia. Só falta mesmo passar o Carnaval, que é sagrado, para que a nova classe média que Lula criou comece a fazer contas de diminuir.

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