Merkel exclui renegociar dívida da Grécia

A chanceler alemã avisa que não planeia desviar-se da sua ortodoxia fiscal, rejeitada pelo novo governo grego de Alexis Tsipras. E tem do seu lado países como Portugal e Espanha.

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Jantar reuniu chefes de Estado da Alemanha e da França e o presidente do Parlamento Europeu Reuters

A chanceler alemã Angela Merkel excluiu este sábado o cenário de um novo alívio da dívida pública da Grécia, como defendido pelo novo primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. O ministro das Finanças grego reúne em Paris neste domingo e não na segunda-feira como estava inicialmente previsto.

“Já houve um perdão voluntário da dívida por parte dos credores privados, os bancos já renunciaram a milhares de milhões da dívida grega”, disse Merkel numa entrevista ao jornal Hamburger Abendblatt publicada esta manhã. “Não vejo como pode haver um novo perdão da dívida”, afirmou.

Em 2012 foi levado a cabo um downgrade (desvalorização) dos juros dos credores e a Grécia viu mais de 100 mil milhões da sua dívida pública serem apagados.

Recentemente, antes das eleições gregas, a dirigente alemã sugeriu que uma saída da Grécia do euro era uma possibilidade se o Syriza de Tsipras – que fez da renegociação do programa de resgate da Grécia a sua principal bandeira – fosse eleito. Na entrevista ao Hamburger Abendblatt, Merkel deixou claro que não iria desviar-se da sua habitual ortodoxia fiscal, rejeitada pelo novo governo grego. O seu recado teve, aliás, mais destinatários além de Atenas: “A Europa vai continuar a demonstrar a sua solidariedade para com a Grécia e outros países particularmente afectados pela crise se esses levarem a cabo reformas e outras medidas económicas”, disse.

Questionada sobre os primeiros anúncios do governo anti-austeridade de Alexis Tsipras, como o aumento do salário mínimo e a recontratação de funcionários públicos, Merkel sublinhou: “Nós, isto é, a Alemanha e os outros parceiros europeus, esperamos para ver com que conceito o novo governo grego virá na nossa direcção”.

O governo de Tsipras começou a discutir os seus planos em relação à dívida pública grega com a União Europeia esta semana, anunciando que não iria pedir uma extensão do programa de assistência financeira nem colaborar com os inspectores da troika que supervisionam o cumprimento do mesmo.

Tsipras quer Itália e França do seu lado
A ronda diplomática continuará esta semana, com as visitas de Tsipras a Itália e França, dois países que o primeiro-ministro grego quer ter do seu lado. Não há nenhuma viagem prevista a Berlim – que, como nota o El País, conta com os governos português e espanhol do seu lado. Tanto Portugal como Espanha reagiram à eleição do Syriza demarcando-se da posição grega de uma eventual renegociação da dívida. “Os governos periféricos são os mais assustados com o êxito do Syriza e a operação de relaxamento que está a gerar: têm passado um mau bocado e temem que a oposição da esquerda nos seus respectivos países siga o exemplo do Tsipras”, disseram “fontes europeias” ao El País.

Por seu lado, o ministro das Finanças Yanis Varoufakis que já tinha encontros marcados para domingo em Londres e para segunda-feira em Paris, antecipou a viagem e encontra-se na capital francesa com o seu homólogo Michel Sapin e o ministro da Economia Emmanuel Macron este domingo.

Angela Merkel, o presidente francês François Hollande e o presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz encontraram-se na sexta-feira à noite em Estrasburgo para um jantar informal em que o prato principal – a imprensa não resistiu à analogia – terá sido a Grécia.

"Desejamos um bom jantar à senhora Merkel, mas não se vai comer o povo grego. Não se serve o povo grego ao jantar", disse o ministro de Estado grego Nikos Pappas. Não houve declarações à saída do jantar.

Alexis Tsipras mantém-se firme nos seus compromissos eleitorais de renegociar o plano de resgate e as condições da dívida grega. "Os meus predecessores fizeram outras coisas depois de serem eleitos. Perderam o apoio do povo e caíram. Tenho de ser fiel e coerente com os meus compromissos", disse o primeiro-ministro na sexta-feira, segundo a agência EFE, citando fontes do governo grego.

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