Podemos ensaia a sua primeira demonstração de força nas ruas

A “Marcha da Mudança” vai desembocar nas Portas do Sol de Madrid, onde em 2011 nasceu o movimento dos indignados, que exigia mais participação dos cidadãos na política.

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Iglesias num comício do partido no fim-de-semana passado, em Valência Heino Kalis/Reuters

A manifestação foi marcada antes de se conhecer a data das eleições legislativas na Grécia. Mas a vitória do Syriza, aliado do partido espanhol Podemos, domingo na Grécia, só fez aumentar as expectativas em relação à manifestação marcada para este sábado pela formação de Pablo Iglesias.

A “Marcha da Mudança” vai percorrer um pequeno caminho, da praça Cibeles às Portas do Sol, homenageando assim o movimento popular dos indignados, que ali nasceu a 15 de Maio de 2011, pedindo uma democracia mais representativa, e que acabou por dar origem a associações que defendem a educação ou a saúde e abriu as portas à criação do próprio partido.

“A esperança chegou”, afirmou Iglesias depois da vitória de Alexis Tsipras, novo primeiro-ministro grego. Nascido há pouco mais de um ano – o aniversário foi assinalado com um comício em Sevilha, no dia 17 –, o Podemos apresentou-se às europeias com quatro meses de vida e elegeu cinco deputados. Desde Novembro que as sondagens indicam que pode vencer as legislativas, dando-lhe vantagem sobre o Partido Popular, a direita, no poder, e colocando-o à frente ou muito perto dos socialistas do PSOE.

O “sismo” de que falam os analistas, capaz de rebentar com o bipartidarismo que governa a Espanha desde a Transição, em 1978, diz-se pronto para ir a votos.

2015 é o ano de todas as eleições e começa ainda mais cedo do que o previsto. As regionais andaluzas foram antecipadas para 22 de Março: a presidente da região com mais população do país, a socialista Susana Diaz, declarou enterrada a sua coligação com a Esquerda Unida, numa decisão que terá em vista encurtar o tempo que o Podemos tem para se preparar. Há duas semanas, o partido de Iglesias encheu o auditório Fibes de Sevilha, algo que até agora só o PSOE era capaz de fazer, e diz reunir 55 mil inscritos nesta comunidade, acima dos 46 mil militantes socialistas.

Em Maio, seguem-se regionais noutras comunidades , como Madrid ou Valência, e municipais (nestas, o Podemos apoia movimentos independentes). Em Setembro, há regionais antecipadas na Catalunha e até ao fim do ano vão realizar-se legislativas.

A marcha de Madrid também serve para lançar este ano vertiginoso, anunciando, como diz o vice de Iglesias, Iñigo Errejon, “uma política ao serviço do povo e não dos interesses privados”.

PP e PSOE têm denunciado as propostas do Podemos como irrealistas, mas o programa para as legislativas que o partido discute agora está longe daquele com que o Podemos se apresentou às europeias. Lá continua o aumento dos salários, o estímulo ao crédito e à procura, e um aumento de empregos nos serviços básicos, que o partido quer pagar com a subida de impostos sobre as grandes empresas e fortunas. Mas não se fala de saída do euro e defende-se uma reestruturação da dívida.

Alguns socialistas não concordam com os ataques que o líder do PSOE, Pedro Sánchez, tem desferido contra Iglesias. Beatriz Talegón, secretária-geral da União das Juventudes Socialistas, e Enrique del Olmo, candidato às primárias do partido em Madrid, assinam um artigo no jornal Público espanhol onde dizem que vão marchar no sábado porque acreditam que “é possível recuperar direitos, é possível que as instituições governam para as pessoas e para a elite”, como se lê na convocatória.

A Madrid chegarão mais de 260 autocarros pagos pelos círculos locais do Podemos e por simpatizantes (houve uma campanha de crowdfunding que juntou 4600 euros) vindos de todo o país. Apoiantes disponibilizaram os seus carros para partilha e 500 madrilenos ofereceram cama a mais de 1200 pessoas.

O politólogo José Ignacio Torreblanco diz à AFP que a marcha é uma acção “arriscada”, mas defende que os líderes do Podemos querem acabar com a impressão de que só existem na televisão (onde Iglesias se tornou conhecido, apresentando programas de debate político) e nas redes sociais, “demonstrando que são reais e não virtuais”. Iglesias diz que só quer “dizer que as pessoas estão fartas de protestar pelo evidente, o direito a cuidados de saúde ou a uma educação decentes”, numa mobilização em que não se vai pedir nada ao Governo, apenas “visualizar o facto de haver dezenas de milhares de pessoas que querem uma mudança”.

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