Boas intenções não chegam

É muito difícil o projecto de Draghi salvar o euro. E o projecto europeu.

Toda a gente está à espera que o BCE injecte centenas de milhões de euros na economia europeia através da compra de dívida pública de todos os países do euro, excepto a Grécia.

O objectivo é salvar a moeda única, mas os resultados desta operação são uma incógnita, se atendermos ao humor dos especialistas. É que, nesta altura, já não há entusiasmos e a divisão faz-se apenas entre os que estão mais ou menos pessimistas. Até os adeptos da expansão monetária, que por princípio apoiam este tipo de medidas, temem que já seja demasiado tarde.

Angela Merkel nunca escondeu o desagrado com que, há mais de dois anos, ouviu Mario Draghi garantir que ia fazer "tudo para salvar o euro". A chanceler alemã não gostou nada de ver o BCE "intrometer-se" nas políticas dos governos da União, ocupando um espaço que era dela. Foi como se, de repente, aparecesse alguém a dizer que há alternativas, quando a sua aposta foi sempre colocar todas as fichas num único modelo – a austeridade. O facto é que a Alemanha resistiu durante dois anos às pretensões de Draghi, atrasando uma intervenção que deveria ter acontecido há mais tempo. Veremos se essa resistência conseguiu levar o BCE a ceder num aspecto essencial: a possibilidade de serem os bancos centrais a comprar a maior parte dos títulos dos países. Como o objectivo de toda a operação de compra de dívida é, entre outros aspectos, libertar crédito para emprestar às empresas e às famílias, pergunta-se se é colocando dinheiro nas mãos dos bancos que isso irá acontecer. O problema é o descrédito do sistema financeiro, que, desde a queda do Lehman Brothers, não pára de nos surpreender pela negativa. E desde então a desregulação continua e a falta de confiança também. Por isso é uma incógnita absoluta saber se a (boa) intenção de Draghi chega para salvar o euro. Ou melhor, o projecto europeu.

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