Terrorismo: há três mil pessoas sob vigilância em França

Medidas antiterrorismo anunciadas prevêem a contratação de cerca de três mil novos elementos para as várias forças de segurança e um investimento de 425 milhões de euros.

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A França vai reforçar dispositivo de segurança Martin Bureau / AFP

Há perto de três mil pessoas sob vigilância dos serviços secretos franceses por ligações a grupos terroristas, revelou esta quarta-feira o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, num discurso em que anunciou as próximas medidas de segurança que o Governo quer implementar.

Duas semanas depois dos atentados terroristas que fizeram 17 mortos em Paris, a França quer reforçar o dispositivo de segurança. Entre as medidas anunciadas por Valls está a criação de 2680 novos postos de trabalho durante os próximos três anos na área do antiterrorismo. Os novos elementos serão distribuídos por várias unidades de segurança, dos quais 1100 vão ser colocados em serviços “encarregados pela luta antiterrorista”.

O Governo espera investir cerca de 425 milhões de euros de “créditos de investimento, equipamento e funcionamento” durante esse período. As despesas, garantiu Valls, “serão compensadas por poupanças (…) no conjunto da despesa pública”, pelo que os compromissos orçamentais acordados no seio do Eurogrupo não vão ser violados.

No entanto, os gastos com o reforço da segurança em todo o país devem ascender a cerca de 735 milhões de euros, de acordo com fontes do gabinete do primeiro-ministro citadas pela AFP.

A Assembleia Nacional deverá discutir “no início de Março” um projecto de lei para remodelar os serviços de vigilância. “Para além de um reforço dos meios sem precedentes, é indispensável fortalecer a capacidade de agir dos serviços", explicou Valls.

No rescaldo dos ataques, a França tem discutido as melhores formas de encarar uma ameaça que, apesar de já ser conhecida, revelou-se da forma mais trágica. O primeiro-ministro socialista afastou desde o início a possibilidade de ser adoptado um Patriot Act à francesa – à semelhança do pacote legislativo aprovado pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de Setembro, que facilitou a vigilância de qualquer cidadão.

Discutida tem sido igualmente a introdução de uma “pena de indignidade nacional”, uma medida defendida pela direita que prevê a privação dos direitos cívicos, civis e políticos dos condenados por actos relacionados com terrorismo. Valls propôs uma “reflexão interpartidária”, cujas conclusões serão apresentadas dentro de seis semanas e devem ser “compatíveis com o direito e os valores” franceses.

Na semana passada, o Governo francês já tinha anunciado a criação de alas especiais nas prisões para integrar os presos considerados como “radicalizados”. Esta medida já era aplicada em regime experimental há alguns meses na prisão de Fresnes e era alvo de críticas por sociólogos que estudam os estabelecimentos prisionais.

Para combater a radicalização na prisão, Valls também anunciou esta quarta-feira a contratação de 60 novos imãs para trabalharem com os detidos – muçulmanos na sua grande maioria, de acordo com alguns estudos. O objectivo é evitar o contacto com líderes religiosos radicais.

Esta tarde, o Presidente, François Hollande, deverá anunciar medidas de longo prazo relacionadas com a educação, com um objectivo claramente preventivo. As propostas devem passar pela defesa da laicidade e pelo respeito pela diversidade, antecipa a imprensa francesa.

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