Ministro francês abre espaço a renegociação da dívida grega

Depois das declarações duras de Christine Lagarde e de Jean-Claude Juncker, que exigem da Grécia o cumprimento estrito dos compromissos internacionais, Michel Sapin aceita flexibilização das regras do jogo.

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Sapin considera legítimo que novo Governo grego queira discutir questão da dívida com Bruxelas Kenzo Tribouillard/AFP

O ministro francês das Finanças, Michel Sapin, marcou distâncias nesta segunda-feira, face ao jogo de pressões políticas que vêm sendo exercidas sobre a Grécia a menos de uma semana das eleições legislativas, que as sondagens dizem poder ser ganhas pelo partido de esquerda Syriza.

Depois de Christine Lagarde, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), e de Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia (CE), terem alertado para os riscos de um novo Governo grego vir exigir uma renegociação da dívida pública do país – que ascende actualmente a 177% do Produto Interno Bruto (PIB) –, o responsável francês, de visita a Tóquio, adoptou uma posição mais flexível, defendendo que a União Europeia deve estar preparada para negociar os termos de uma renegociação da dívida e até de uma possível extensão do plano de resgate adoptado pela troika.

“Seja qual for o resultado das eleições, é absolutamente legítimo que possa haver discussões entre a União Europeia e o novo Governo grego. Aquilo que é verdadeiramente importante é a estabilidade da zona euro”, afirmou Sapin numa entrevista que concedeu ao jornal Financial Times, no âmbito de uma visita à capital japonesa.

A declaração do ministro francês aconteceu poucas horas depois de Christine Lagarde, a líder do FMI, ter alertado que “incumprimento, reestruturação e alteração dos termos [do pacote de dívida] têm consequências para o signatário e para a confiança no signatário”.

Numa mesma linha de abordagem, Jean-Claude Juncker afirmava que a Europa está disponível para “apoiar a Grécia”, mas espera que este país "mantenha os seus compromissos, assumidos com os seus parceiros”. Face à possibilidade de ser o Syriza a vencer as eleições, cenário para o qual as sondagens apontam, o presidente da Comissão Europeia defendeu que esse partido de esquerda tem de “respeitar os compromissos assumidos e manter-se no caminho das reformas e da responsabilidade orçamental”.

Apesar das declarações duras de Lagarde e Juncker, começa a ganhar força a possibilidade de, no rescaldo das eleições de domingo na Grécia, se avançar para a realização de uma conferência multinacional que analise soluções para o nível elevado de dívidas que vários países europeus acumularam. A proposta para a realização de uma iniciativa deste tipo partiu do líder do Syriza, Alexis Tsipras, e, no domingo, o jornal Irish Times avançava que o ministro irlandês das Finanças é partidário da ideia. Lagarde foi confrontada com a proposta e reconheceu que “as abordagens colectivas são sempre boas ao nível europeu”.

Primeiro país a ser resgatado pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo BCE, a Grécia acabou por ter que recorrer a uma segunda tranche de empréstimo estrangeiro, totalizando 240 mil milhões de euros em créditos da troika. Após seis anos de recessão, o país terminou 2014 com saldo primário positivo e a Comissão Europeia estima que a economia possa crescer 3% no ano que agora começou. O impacto no mercado de trabalho será marginal, com a taxa de desemprego a manter-se perto dos 25% e a persistir como um dos principais problemas do país.

O elevado nível de dívida não é um exclusivo da Grécia. A Itália, que não consegue afastar o quadro de estagnação/recessão, tem um rácio de dívida face ao PIB de cerca de 134% (dados do Eurostat relativos ao terceiro trimestre de 2014). O indicador para Portugal está um pouco acima dos 129%, o da Irlanda ronda os 116%. A média apurada para a zona euro é de 92,7%.

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