Tribunal dá razão à Sotheby’s no caso do Caravaggio que pode não ser um Caravaggio

Leiloeira foi acusada de negligência na avaliação de uma obra que foi vendida em leilão por 55 mil euros e acabou avaliada em 13 milhões. Especialistas da Sotheby's mantêm que a pintura não é um Caravaggio.

A obra atribuída a Caravaggio pelo historiador de arte Denis Mahon.
Fotogaleria
A obra atribuída a Caravaggio pelo historiador de arte Denis Mahon. DR
Fotogaleria
A obra do Museu de Arte de Kimbell, no Texas DR

O caso começou em 2006, quando o coleccionador Lancelot William Thwaytes pediu à Sotheby’s que leiloasse uma obra que pertencia ao acervo da sua família desde o início da década de 1960. Avaliada a obra, a leiloeira levou-a à praça como sendo uma pintura de um seguidor de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), o mestre do barroco italiano, que executou um quadro com o mesmo tema – Jogadores de Cartas (C. 1594), também traduzido como Os Batoteiros – que hoje pertence ao Museu de Arte de Kimbell, no Texas, que tem uma importante colecção de pintura italiana e francesa.

Ora acontece que, depois de arrematada por John Denis Mahon (1910-2011), importante coleccionador e historiador de arte especializado no barroco, por 42 mil libras (55 mil euros), a obra foi reanalisada e considerada, afinal, um Caravaggio autêntico. Depois de classificada por Mahon, académico respeitado, e por outros historiadores, como Mina Gregori, foi avaliada em 10 milhões de libras (13 milhões de euros).

Considerando que a leiloeira não tinha feito correctamente o seu trabalho no que toca a investigação da autoria da obra, Thwaytes queixou-se ao Supremo Tribunal de Londres em Janeiro de 2013, procurando ser ressarcido, dada a diferença entre o valor atingido em 2006 e o que a pintura passou a ter depois de reatribuída por Mahon a Caravaggio.

Agora, o tribunal londrino veio dar razão à leiloeira. Segundo a decisão da juíza, a Sotheby’s “não foi negligente na sua avaliação da pintura” e “tinha todo o direito em confiar no conhecimento e experiência dos seus peritos do departamento de mestres da pintura antiga no que toca à avaliação da qualidade da pintura”.

Os especialistas deste departamento decidiram, por unanimidade, que se tratava de uma cópia, e continuam a defender ainda hoje que a pintura que pertencia a Thwaytes não tem a mão de Caravaggio, lembra o diário britânico The Independent.

Em comunicado, a Sotheby’s congratulou-se com a decisão do tribunal, que diz vir confirmar que os especialistas da leiloeira são de elevada qualidade. Por seu lado, os advogados de Thwaytes vieram dizer que o coleccionador está “extremamente desapontado”, e que “mantém que a leiloeira falhou ao não identificar o potencial do quadro”. Thwaytes está a considerar recorrer da decisão.

Neste momento, a pintura está emprestada ao Museu da Ordem de São João, em Clerkenwell, Londres.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários