Há mais de 11 mil pessoas à espera de saber o que vai ser da PT Portugal

Enquanto os accionistas decidem qual a opção que melhor serve os seus interesses, os trabalhadores da PT esperam pela clarificação do futuro da empresa.

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PT investiu em instrumentos de dívida de empresas do universo GES PÚBLICO/Arquivo

Se tudo correr como previsto, os accionistas da PT SGPS vão decidir daqui a dez dias se a PT Portugal vai ser vendida ao grupo francês Altice por 7400 milhões de euros (valor que condiciona 500 milhões de euros a metas futuras de geração de receitas da operadora).

Para a Oi, que é dona da empresa desde 5 de Maio, este é o único caminho para reduzir a dívida astronómica – que ultrapassa os 15 mil milhões de euros - e ambicionar participar nos movimentos de consolidação no mercado brasileiro.

Do Meo (que tem a oferta residencial e empresarial), à PT Contact (que tem o customer service e as vendas), da PT Sistemas de Informação, à PT Inovação ou à PT ACS (cuidados de saúde)… Para os 11300 trabalhadores da PT Portugal no activo (a empresa tem ainda outros cerca de cinco mil em situação de pré-reforma e suspensão de contratos), dia 22 de Janeiro poderá ser o dia em que saberão se a operadora será vendida aos actuais donos da Cabovisão e da Oni ou se as incógnitas quanto ao futuro permanecem.

Sob a marca Meo, a PT continua a ser líder de mercado, mas a concorrência é cada vez mais feroz e a NOS e a Vodafone não dão tréguas. Há uma guerra de preços no mercado residencial (especialmente graças aos chamados pacotes de telecomunicações, onde se juntam televisão, telefone fixo e móvel e Internet), mas muito se joga também no segmento empresarial.  Nos últimos meses, a NOS ganhou grandes contas, como o BPI e a Águas de Portugal, e na empresa liderada por Miguel Almeida há quem reconheça que a PT Portugal é uma concorrente mais fragilizada neste segmento, quando se sabe que a Oi fechou a torneira do investimento e o nome da empresa está permanentemente nas páginas dos jornais.

O presidente executivo da PT Portugal, Armando Almeida, ambiciona avançar com um plano estratégico para reduzir custos e aumentar a rentabilidade, mas o caminho para lá chegar continua a ser vago enquanto não se definir o futuro da companhia.

As vozes mais críticas quanto à entrada em cena da Altice falam numa empresa demasiado endividada, lembram os despedimentos na Oni e na Cabovisão e dizem que a mão-de-ferro dos franceses na gestão da empresa vai limitar o investimento em redes e naquela que tem sido até à data uma das mais-valias da PT, a aposta na inovação. E antecipam que a PT será preparada para mudar de mãos dentro de alguns anos, com lucros chorudos para os vendedores.

Nas declarações à imprensa, os responsáveis da Altice rejeitam esta visão e garantem que vieram para ficar. Dizem-se preparados para investir na empresa, para garantir a liderança do mercado e manter os postos de trabalho. E sublinham que, ao contrário da Oni e da Cabovisão, a PT não precisa de ser salva. Só melhor gerida.

Há no sector das telecomunicações quem diga que a PT Portugal é neste momento uma empresa sem norte e sem estratégia. Mas há quem esteja disposto a pagar por ela 7400 milhões de euros e Isabel dos Santos (parceira da Sonaecom na NOS) fez um arremedo de OPA à PT SGPS para chegar à operadora. A oferta ficou pelo caminho, mas as cenas dos próximos capítulos dirão se a empresária angolana volta à carga e se o fará ou não aliada à Sonaecom (dona PÚBLICO). Os dois parceiros mostraram-se disponíveis para participar numa solução que promova “a defesa do interesse nacional” no caso PT, mas nunca chegaram a aprofundar cenários. Certo é que, quanto mais tempo se prolongar a incerteza em torno da PT Portugal, mais a NOS terá a ganhar

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