Governo com metade das notícias negativas, oposição com tom positivo

Entidade Reguladora para a Comunicação Social analisou a cobertura noticiosa e o pluralismo em 2012 e 2013 nos principais noticiários das estações generalistas.

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O Governo teve um número predominante de notícias negativas em 2013 e 2012, enquanto a oposição mereceu uma apreciação positiva no mesmo período e a troika foi alvo de peças com um tom equilibrado. Esta é uma das conclusões do relatório do pluralismo político elaborado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) relativo àqueles anos.

O trabalho - já aprovado pela ERC e enviado ao Parlamento -  teve em conta os telejornais dos quatro canais (RTP1, RTP2, SIC e TVI) generalistas e de acesso livre, tendo como critério o tom das notícias de política apresentadas, juntamente com a audiência média das mesmas.

Mais de metade das peças (59,9%) foram negativas para o Governo, 21,4% foram equilibradas e 23,7% foram positivas em 2013, números que não diferem muito dos valores do ano anterior. Já os partidos da oposição com representação parlamentar, no seu global, tiveram notícias com sentido positivo (63,1%); 15,2% de peças negativas e 21,8% de notícias equilibradas.

Mesmo o PSD e o CDS estão representados em tom positivo, apesar de valores abaixo dos 50%. Entre os partidos da oposição, o PS não alcançou os melhores resultados nem em 2012 nem em 2013: teve peças maioritariamente favoráveis, mas é o PCP que tem melhor imagem ao chegar aos 76,6%, seguido do BE com 71,1%.

Os partidos sem representação parlamentar variam na apreciação: é positiva no Telejornal da RTP1 e negativa no Jornal da Noite (SIC).

Apesar das medidas de austeridade tomadas pelo Governo em nome do programa de ajustamento, a troika não ficou muito afectada. Sob a designação de organismos empresariais/económicos institucionais, a troika apareceu nas notícias num tom equilibrado (71,7%) e só em 19,8% de peças negativas em 2013. A contestação às medidas por representantes de sindicatos e dos trabalhadores passou nas televisões com boa imagem, ao alcançarem 69,8% de notícias favoráveis.

Também sem muitas críticas passou o Tribunal Constitucional, ao registar 55% de peças equilibradas e 32% de notícias positivas. Quase os mesmos valores para a Presidência da República: 54% de notícias equilibradas e 30% positivas. A Assembleia da República também escapou à crítica: a esmagadora maioria das notícias (60,9%) são equilibradas.

No caso das Regiões Autónomas, as televisões produziram peças negativas, sobretudo para a Madeira. Não só o Governo regional, até agora liderado por Alberto João Jardim, como para os partidos com actividade na Madeira. 

Propostas políticas e fiscalidade dominam noticiários
Foi o “tema dominante” dos noticiários das televisões generalistas em que os partidos são citados, tanto em 2012 como em 2013. A análise da ERC ao alinhamento dos telejornais da RTP1, SIC, TVI e RTP2 permite concluir que os “acontecimentos e problemáticas que envolvem directamente os organismos políticos do país” representam  a esmagadora maioria dos temas que engrossam o horário noticioso.

Com ligeiras diferenças entre os diferentes canais, a política açambarca cerca de 70% das peças noticiosas. No ano de 2013, a RTP2 foi a que apresentou a maior percentagem (72,1%), enquanto que a RTP1 se ficou pelos 67,6%. A SIC chegou aos 72% e a TVI ficou nos 70,1 por cento. A comparação com o ano de 2012 revela que as duas estações privadas apostaram mais na política em 2013, com uma subida, nas duas estações na ordem dos 10%.

O segundo tema em que as “formações políticas nacionais” foram identificadas nos telejornais foi sobre a Economia, Finanças e Negócios. Isto apesar de nunca ter ultrapassado os 10% do total. Aí, foi a “acção da banca e da troika, bem como assuntos directamente relacionados com o tema das relações laborais” que se destacaram.

Dentro do tema da Política, a ERC assinalou ainda os “diferentes subtemas relacionados com matérias políticas nacionais” que mais vezes surgiram nos noticiários. Os alinhamentos foram dominados pelas “actividades e propostas apresentadas pelos partidos políticos (em particular os que têm assento parlamentar)”, seguidas muito de perto pelas “políticas fiscais/financeiras”. Qualquer um destes temas ficou muito perto dos 10%.

Outra “temática recorrente” detectada foi a elaboração e apresentação do Orçamento do Estado. Uma das alterações verificadas entre 2012 e 2013 foi o aumentar de peças relacionadas com o Tribunal Constitucional, embora nunca tenha ultrapassado, em média, os 4% no último ano analisado.  

O relatório debruça-se ainda sobre as “especificidades inerentes a cada canal”. Assinala a “maior presença de peças focadas em políticas para a educação”, tanto na RTP1 e na TVI. Destaca a especial apetência de RTP2 pela Presidência da República. Mas sempre relacionadas “com o acompanhamento constante que todos os canais fazem da actividade governativa”.

A ERC não deixa, contudo, de detectar, de forma levemente crítica, a ausência do tratamento de alguns subtemas ou “políticas sectoriais” do Governo. “A título ilustrativo dessa tendência, refira-se a quase inexistência de peças que salientem políticas de migração, políticas para a ciência e tecnologia ou políticas para a família”.

Os números apresentados pela ERC revelam ainda que as televisões não apostam muito no tema da corrupção. Nenhum dos canais foi alem dos 2% de notícias que abordassem a “Suspeita/envolvimento de políticos em escândalos/irregularidades”, a não ser o Jornal da Noite da SIC, em 2012 (2,3%). Mas isto foi até finais de 2013.

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