Mercados mostram sinais de nervosismo, mas estão longe do pânico de 2011

Bolsas caíram, mas as taxas de juro da dívida continuam próximo de mínimos históricos. Os investidores parecem acreditar que uma crise na Grécia não se iria desta vez alastrar ao resto da zona euro.

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Preocupações com o arrefecimento da economia mundial castiga bolsas Kai Pfaffenbach/Reuters

As bolsas tiveram um dia negativo e o euro caiu para o mínimo dos últimos nove anos, mas nos mercados não é ainda evidente um grande nervosismo em relação à possibilidade de saída da Grécia da zona euro. E muito longe se está do cenário vivido entre 2010 e 2012 em que qualquer sinal de instabilidade na Grécia levava imediatamente a contágio no sector bancário europeu e nos outros países da periferia, com Portugal à cabeça.

Num dia que começou com as notícias que davam conta da abertura de portas alemã a uma saída do euro da Grécia, os mercados accionistas na Europa e nos Estados Unidos registaram quebras significativas. O índice alemão DAX caiu 2,99%, o francês CAC 3,31% e o italiano MIB 4,92%. Em Lisboa, a queda foi de 3,13%, e em Atenas de 5,63%.

Ao mesmo tempo, o euro baixou da barreira dos 1,20 dólares, acentuando uma descida que se regista desde meados do ano passado.

No entanto, não é possível dizer que todos estes resultados se deveram a preocupações geradas pela Grécia. Muito pelo contrário. Nas bolsas, tanto na Europa como nos Estados Unidos, alguns dos títulos que registaram maiores descidas foram os das empresas petrolíferas. Por exemplo, em Portugal, a Galp registou uma perda superior a 5%. Isto deve-se não à Grécia mas à descida dos preços do petróleo, que esta segunda-feira baixaram a barreira dos 55 dólares por barril. Os investidores temem que, com os preços do crude a cair, estas empresas sejam forçadas a baixar as suas margens, passando a valer menos.

Por outro lado, a principal explicação para a descida do euro – e que tem vindo a pesar no valor da divisa nos últimos sete meses – é a expectativa crescente de que o Banco Central Europeu será obrigado a tomar novas medidas para evitar a deflação, aumentando o ritmo a que imprime euros e os injecta nos mercados, o que baixa o valor da divisa. A descida dos preços do petróleo e o anúncio de que a inflação voltou a cair na Alemanha em Dezembro foram as razões para que nos mercados se passasse a acreditar ainda mais num cenário de intervenção mais agressiva do BCE.

Mas o sinal mais claro de que a Grécia não está ainda no centro das preocupações dos investidores é o facto de os juros da dívida pública dos países periféricos da zona euro continuarem em valores próximos de mínimos históricos. Entre 2010 e 2012, ao mínimo sinal de que uma saída da Grécia do euro era possível, estes indicadores disparavam em países como Portugal, a Espanha ou a Itália. Agora isso não acontece. Mais uma vez, a expectativa de que o BCE possa brevemente começar a comprar dívida pública sobrepõe-se ao medo de que uma saída grega se possa alastrar a outras economias.

Menos contágio
Porque é que desta vez os mercados reagem de forma muito mais calma do que no início da crise? Os investidores parecem dividir-se entre os que continuam a achar que, tal como no passado, uma saída do euro será um cenário que Berlim, Bruxelas e Atenas vão sempre querer evitar e aqueles que confiam que, mesmo que a Grécia abandone a moeda única, os efeitos de contágio para o resto da zona euro serão muito menores.

A dar força à primeira visão está o facto de o Syriza, cuja vitória nas eleições não é ainda garantida, vir a afirmar repetidamente que não pretende abandonar o euro. Nos últimos dias, partidos que admitem participar num futuro Governo liderado pelo Syriza têm colocado como condição uma estratégia económica que não inclua o abandono da moeda.

De igual modo, têm vindo também a surgir mais sinais de que o contágio para o resto da zona euro seria agora bem mais controlado. Existem hoje mecanismos de apoio de emergência que não existiam e o BCE pode estar prestes a comprar obrigações de tesouro dos diversos Estados.

Há ainda um outro factor que serve para tranquilizar os mercados e os Governos de Berlim e Paris. Os seus grandes bancos estão muito menos expostos à Grécia. De acordo com números publicados esta segunda-feira pela Reuters, Deutsche Bank e Commerzbank, as duas maiores instituições financeiras alemãs, têm empréstimos a entidades privadas e públicas gregas de 298 e 400 milhões de euros respectivamente. Em 2011, o Deutsche Bank tinha uma exposição de 2500 milhões e o Commerzbank de 4100 milhões. O mesmo acontece com os bancos franceses. O BNP Paribas tem empréstimos de 700 milhões agora contra 7100 milhões em 2011 e o Société Générale de 300 milhões contra 3800 milhões.

Calma a mais?
Há quem ache contudo que há demasiado optimismo em relação a todos estes cenários. E que do pânico do início da crise se passou para uma calma excessiva nos mercados. Apesar de Syriza e governo alemão continuarem a dizer que não querem a saída da Grécia do euro, parece claro que há agora uma maior abertura para enfrentar esse cenário no caso da outra parte não querer ceder nas suas intenções. O governo alemão confia que o contágio será reduzido e a Grécia já apresenta excedentes orçamentais primários que lhe permitiriam gerir melhor uma situação de default internacional.

Por outro lado, entre os efeitos imediatos e inevitáveis de uma saída descontrolada da Grécia com default da dívida seria um rombo orçamental nos Estados da zona euro. Nesse cenário, ficaria claro que a aprovação pela opinião pública e pelos parlamentos nacionais de novas ajudas a outros países da zona euro se tornaria muito mais difícil. Que efeito teria esse novo contexto político nas taxas de juro da dívida portuguesa, por exemplo, é difícil de prever.

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