Os recados de Paris e Berlim para Atenas

O conteúdo da mensagem de Hollande e Merkel é igual. A forma, nem por isso. E isso faz diferença.

No domingo, a revista Der Spiegel dizia que a  chanceler alemã estava a antecipar a saída da Grécia da zona euro, caso a esquerda radical ganhe as eleições de 25 de Janeiro. E as sondagens dizem precisamente isso. Que o Syriza de Alexis Tsipras poderá vencer as legislativas com cerca de 30% dos votos. E nesse cenário, ainda segundo a revista alemã, Angela Merkel e o seu ministro Wolfgang Schäuble veriam como “inevitável” que a Grécia abandonasse o clube do euro, porque o país passaria a ser governado por um partido que defende a renegociação da dívida, não se sabe muito bem em que termos. E Berlim até já está a desdramatizar esse cenário, já que, com o fundo de resgate, a união bancária e a “reabilitação” de Portugal e Irlanda, o perigo de contágio até poderia ser limitado.

A notícia, claro está, caiu que nem uma bomba em Atenas e sucederam-se acusações, justas, diga-se, de uma ingerência despropositada. Até o próprio parceiro de coligação de Merkel veio dizer que “a CDU não deveria intrometer-se com ameaças nas eleições democráticas de um país europeu”. Não é aceitável que a Alemanha esteja a chantagear os gregos em vésperas de um acto eleitoral de um país que é soberano.

François Hollande também comentou as eleições na Grécia, mas para dizer que “os gregos são livres de decidir o seu destino. Mas, tendo dito isto, há alguns compromissos que foram feitos, e esses têm de ser respeitados, claro”. Paris e Berlim estão a dizer precisamente a mesma coisa; Hollande também sabe que esses “compromissos” assumidos pela Grécia nesta altura parecem ser incompatíveis com os propósitos de Alexis Tsipras. Mas a forma de o dizer é completamente diferente daquela escolhida por Berlim, que, além de não dar a cara, desrespeita e tenta interferir abertamente no processo democrático de um país que tem os mesmos direitos do que a Alemanha de estar no euro.

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