Especialista em Educação da OCDE criticou a “cultura da nota” em Portugal

Num encontro promovido pelo Conselho Nacional de Educação, Paulo Santiago defendeu que, entre os alunos mais novos, o ensino devia estar mais focado na avaliação formativa.

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Exames do 4.º ano vão deixar sem aulas muitos alunos do ensino básico Nélson Garrido/Arquivo

Um especialista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico defendeu esta segunda-feira que, entre os alunos mais novos, o ensino em Portugal devia estar mais focado na avaliação formativa, que consegue detectar as necessidades dos estudantes, do que na avaliação sumativa. Paulo Santiago criticou a cultura portuguesa de "excessiva atenção e preocupação [com] as notas e classificação dos alunos", durante um encontro em Lisboa, sobre a avaliação no sistema de ensino, promovido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

“A cultura da nota está instalada em Portugal e demora anos a mudar. Há a pressão dos pais que não entendem a mudança para as notas qualitativas”, lamentou o analista da Direcção de Educação da OCDE. Segundo um estudo daquela organização sobre políticas nacionais de avaliação, aplicadas em 28 países, “a avaliação formativa evita a excessiva atenção [centrada] nas notas e na classificação dos alunos, que infelizmente ainda acontece em Portugal”, disse Paulo Santiago. Já a avaliação formativa permite “diagnosticar as necessidades de aprendizagem dos alunos e oferecer um ‘feedback’ em tempo real”, sublinhou.

O estudo “Synergies for Better Learning: An International Perspective on Evaluation and Assessment” ("Sinergias para uma melhor aprendizagem: uma perspetiva internacional sobre avaliação") defende que é preciso encontrar “um equilíbrio entre formação formativa e sumativa”. A avaliação sumativa, segundo o estudo, deve complementar uma apreciação interna (feita pelos professores pelo trabalho realizado ao longo do ano na sala de aula) e uma externa: a interna tem maior grau de validade, por se basear em informações continuas e contar com maior diversidade de tipos de avaliação (como projectos, provas orais ou trabalhos de grupo); a avaliação externa tem um maior grau de confiabilidade, porque as provas e critérios de avaliação são iguais para todos, lembrou.

Uma vez que as duas avaliações têm vantagens e desvantagens, o estudo da OCDE concluiu que se deve encontrar um equilíbrio entre a avaliação interna e a externa, “embora a avaliação sumativa externa se justifique mais nas fases mais avançadas do percurso escolar”, sublinhou o especialista. Ou seja, os exames são importantes para validar conhecimentos no sistema de ensino, mas fazem sentido numa fase mais avançada do ensino.

Entre os mais jovens, os testes devem ter uma função de diagnóstico, para permitir a orientação dos alunos e a superação de dificuldades.
O representante da OCDE sublinhou ainda a importância de avaliar as competências complexas, que são cada vez mais importantes, uma vez que permitem transformar e utilizar a informação transmitida pela escola em vez de o ensino ser um mero processo rotineiro de memorização da informação.

O seminário “Avaliação Interna e Qualidade das Aprendizagens” tem como objectivo “perceber o que se está a fazer na avaliação e currículos e apresentar alternativas e sugestões para que o Ministério da Educação possa adoptar as medidas que assim entender”, explicou o presidente do CNE, David Justino, no discurso de abertura do encontro. "Há uma espécie de caixa negra relativamente à forma como se faz a avaliação interna nas nossas escolas”, afirmou David Justino, defendendo a complementaridade entre a avaliação formativa interna e a sumativa externa.
 

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