Uma mensagem para não ficar na história

Na mensagem de Ano Novo, Cavaco limitou-se a repetir apelos e avisos, agora em ano de eleições.

O último discurso de Cavaco Silva enquanto Presidente da República em plena posse dos seus poderes não ficará na história nem parece ter sido escrito para tal. Ao ouvinte atento, ele surgiu mais como uma colagem de frases dispersas, ditas noutros períodos ou a eles aplicáveis, sem uma centelha acrescida de clarividência ou esperança. Deixando de parte dispensáveis clichés ou banalidades absolutas (como a de que “Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer” e “esse caminho deve ser feito em conjunto”; ou a de que “não nos podemos deixar abater pelo desânimo nem cultivar o pessimismo. Devemos olhar o futuro com confiança renovada”), o discurso não é sequer um “arrumar da casa”. Se em 2013 o PR garantira que “Portugal saiu da recessão”, apelando a um “compromisso político de médio prazo”, agora, quando já se percebeu que tal compromisso não passou de uma quimera, Cavaco Silva quis reafirmar, por um lado, os benefícios dessa anunciada saída da recessão (“a economia está a crescer, a competitividade melhorou, o investimento iniciou uma trajectória de recuperação e o desemprego diminuiu”), para, em seguida, tal como fez Passos Coelho, dizer que “é preciso criar condições políticas para que esta tendência se reforce no ano que agora começa”. Dito assim, em ano de eleições, não deixará grandes dúvidas. O apelo a entendimentos pré-eleitorais é outro recado aos partidos, sobretudo à actual maioria. Partidos que, aliás, Cavaco fez questão de defender: é votando neles e não alheando-se deles que os eleitores assegurarão a defesa dos seus interesses. Mas isso, e aqui o PR foi mais contundente, tem um preço: os partidos têm de ser exemplo de transparência, responsabilidade e civismo, não devem fazer “promessas irrealistas” e devem combater a corrupção. Disse, já no final, que “a esperança não se proclama com meras palavras”, e isso é coisa que os portugueses têm vindo a aprender. Veremos como, no dia do voto.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários