Embaixador brasileiro nos EUA vai ser o próximo ministro dos Negócios Estrangeiros

Governo do segundo mandato de Dilma toma posse esta quinta-feira. Nomeação de Mauro Vieira para o Itamaraty pode indicar reaproximação entre Brasília e Washington.

Foto
Dilma foi reeleita para um segundo mandato em Outubro Evaristo Sá / AFP

Na véspera da tomada de posse para o segundo mandato, a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, revelou a composição final da sua equipa ministerial. O destaque vai para a pasta dos Negócios Estrangeiros que será assumida pelo actual embaixador em Washington.

É uma troca directa, com a entrada de Mauro Vieira no Itamaraty e com a saída de Luiz Alberto Figueiredo que ruma a Washington. Durante o último mês, a Presidente tem levado a cabo a difícil tarefa de juntar um novo Governo que, idealmente, deveria acomodar os diferentes interesses internos do Partido dos Trabalhadores e piscar o olho à miríade de partidos que compõe o Congresso.

Ainda em Novembro, Dilma anunciou a escolha de um novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, lida como uma clara inflexão à direita na orientação económica do novo Governo. Levy – que substitui Guido Mantega – fez parte do primeiro executivo do ex-Presidente, Lula da Silva, e era economista-chefe do Bradesco, um dos maiores bancos privados brasileiros. É visto como um “amigo dos mercados” e prova disso foi a subida da bolsa de São Paulo logo no dia da sua nomeação.

A missão de Levy – doutorado em Economia na Universidade de Chicago, famosa escola do pensamento liberal, encabeçado pelo economista Milton Friedman – é a de controlar a despesa pública e relançar o crescimento da economia brasileira. A escolha de Levy foi também interpretada como uma aproximação de Dilma aos sectores mais à direita, na tentativa de construir pontes com o PSDB do candidato derrotado, Aécio Neves.

A última pasta a ser renovada foi a dos Negócios Estrangeiros e a escolha do actual embaixador nos EUA pode também indicar uma reorientação da política externa brasileira. Quando tomou posse em Washington, em 2010, Vieira defendeu ser possível um “diálogo harmonioso” entre o Brasil e os Estados Unidos e a sua experiência pode ser importante numa altura em que as relações entre os dois países passam por um período de maior distanciamento.

O ponto mais baixo foi atingido no Verão de 2013 quando foram reveladas as escutas feitas pela Agência de Segurança Nacional (NSA) a empresas brasileiras. Na altura, Dilma Rousseff chegou mesmo a desmarcar uma visita aos Estados Unidos, como forma de protesto. A escolha de Mauro Vieira para o Itamaraty – que também foi embaixador na Argentina, entre 2004 e 2009 – poderá dar início a uma reaproximação.

Sem ainda tomar posse, o novo Governo já tem uma polémica. O novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, foi fortemente criticado pela anterior titular da pasta, Marta Suplicy, que se demitiu em Novembro em rota de colisão com Dilma. A senadora do PT escreveu nas redes sociais que “o povo brasileiro não faz ideia dos desmandos” que o ex-ministro de Lula “promoveu à frente da cultura brasileira”.

Polémica foi também a nomeação da nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que chegou a liderar o movimento ruralista no Congresso – um grupo de deputados e senadores que defende os interesses agrícolas e se opõe frequentemente a propostas de preservação ambiental ou de promoção da reforma agrária. Em 2010, Abreu recebeu a infame “moto-serra de ouro”, atribuída pela Greenpeace sob forma de protesto.

De uma forma geral, a remodelação operada por Dilma para o segundo mandato mexeu em 24 das 39 pastas e, de acordo com alguns analistas, corporizam uma demarcação em relação à ala dos leais a Lula. Também a principal corrente do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), foi afastada da equipa ministerial, com o colunista do jornal O Globo, Ilimar Franco, a sublinhar que tal se deve ao “envolvimento de quadros da corrente nos escândalos Mensalão e da Petrobras”.

Sugerir correcção
Comentar