Os bastidores da Tate vão ficar on-line

Até aqui "um tesouro escondido", os arquivos da instituição britânica estarão disponíveis até ao próximo Verão.

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Uma das cartas de amor de Paul Nash a Margaret Nash, datada de Julho de 1913 TATE IMAGE

Para já, são seis mil fotografias, cartas, cadernos de desenho, registos técnicos e outros materiais ligados à vida e à obra de dezenas de artistas. Bastante, mas apenas uma pequena amostra do que a Tate pretende fazer em 2015, ano ao longo do qual disponibilizará pela primeira vez on-line 52 mil dos cerca de um milhão de itens dos seus arquivos.

De entre os materiais já disponíveis, o jornal The Guardian, que avançou a notícia, destaca britânicos: as fotografias de paisagens e cartas de amor do pintor Paul Nash, que serviu nas duas guerras mundiais, um vasto e detalhado leque de registos das esculturas de Barbara Hepworth datados de a partir de 1925, e três mil fotografias de Nigel Henderson ligadas à cena jazz londrina dos anos 1950. Mas nos Tate Archives encontram-se entradas tão diversas como materiais de 1999 a 2005 ligados às obras que o belga Francis Alÿs tem na colecção da Tate, desenhos, fotografias, escritos e poemas feitos entre 1966 e 1967 por Carl Andre, desenhos e blocos de notas de Francis Bacon datados de 1950 a 1957,  correspondência e cópias de documentos de Oskar Kokoschka (datados de entre 1904 a 1975), cartas e materiais ligados a pinturas do pré-rafaelita John Everett Millais, manuscritos, cartas e álbuns de fotografias da irmã de Virginia Wolf, Vanessa Bell, do seu marido, Clive Bell, e do filho de ambos, Julian, materiais ligados à obra de Kurt Schwitters coligidos a partir de 1948 pela companheira do artista, que morreu nesse ano, e materiais pertencentes ou usados por William Turner, um dos mais celebrados artistas britânicos de sempre.

“Há demasiado tempo que somos um tesouro escondido”, disse na terça-feira o director dos arquivos, Adrian Glew, citado pelo Guardian. Acrescentando: “É um tesouro nacional, mas destina-se ao enriquecimento de todo o mundo; gostaríamos que chegasse a um público tão vasto quanto possível.” E, por isso mesmo, a muitos dos esboços e fotografias foram atribuídas licenças creative commons, de forma a que toda a gente possa copiá-los e partilhá-los para usos não comerciais.  

Apesar de uma imensidão, os seis mil items agora disponíveis on-line são uma pequena gota de água. “Representam 0,6% da colecção”, recordou o mesmo responsável, explicando que o resto deverá ficar disponível até ao próximo Verão. Em colaboração com a Zooniverse, a equipa da Universidade de Oxford especializada na construção de arquivos digitais, espera conseguir-se também transcrições integrais de documentos manuscritos. Tal será possível devido a uma bolsa de dois milhões de libras (2,5 milhões de euros) da Lotaria britânica, com a qual se pagou a criação de infra-estruturas para a digitalização dos materiais.

Entretanto, os documentos agora disponibilizados pela primeira vez começaram a lançar pequenas chispas: “Jacob Epstein: carta mostra o desdém do escultor pela arte de Churchill”, titulou o The Independent, pegando numa carta escrita por Epstein à sua filha Peggy Jean em 1948, quando o ex-primeiro ministro foi feito membro da Real Academia, que ficou com três das suas pinturas – um “amador”, escreveu Epstein. O Independent recorda como, em 1946, Epstein fez vários bustos de Churchill, que os dois eram vizinhos, vivendo frente um ao outro em Hyde Park Gate e, à época, descritos como amigos.

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