Há mais metano a ser libertado para o ar por causa dos castores

Embora a proporção seja pequena em relação a outras fontes de metano, a expansão da população de castores e das represas que constroem fez aumentar a emissão deste gás com efeito de estufa.

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Um castor europeu Harald Olsen

Quase levadas à extinção por causa da caça e das suas peles, as duas espécies de castores do mundo (uma euroasiática e outra americana) foram recuperando os números devido à sua conservação. E com isso foram reconstruindo o seu mundo: as represas de água onde vivem. Mas estas porções de água libertam metano, um dos principais gases com efeito de estufa.

Uma equipa de cientistas fez uma estimativa global da quantidade deste gás libertado a partir dos ecossistemas produzidos pelos castores e concluiu que no ano 2000 foram libertados 800 milhões de quilogramas de metano neste processo, cerca de 200 vezes mais do que no início do século passado, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica AMBIO.

Existem duas espécies de castores no mundo, o Castor canadensis, da América do Norte, mas que foi introduzido no Norte da Europa e no Sul da América do Sul, e o Castor fiber, que vive na Europa e na Ásia (mas não existe na Península Ibérica). Uma percentagem dos castores das duas espécies constrói represas, a partir de cursos de água, usando troncos, que depois habitam.

Estas represas podem chegar a ter uma profundidade de 1,5 metros. As suas águas paradas fazem acumular detritos e acaba por ser libertado metano para a atmosfera. Este gás tem um efeito de estufa 21 vezes maior ao longo de 100 anos do que o dióxido de carbono, e é o segundo gás mais presente na atmosfera, a seguir ao dióxido de carbono, com consequências a longo prazo para o efeito de estufa da Terra, responsável pelas alterações climáticas.

Para saber como estava a evoluir o efeito da actividade dos castores na libertação do metano, Colin Whitfield, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, e outros investigadores estimaram a população deste mamífero e a área das represas construídas por ele. A partir daqui, a equipa foi calcular a emissão de metano para a atmosfera.

Assim, com base noutros estudos populacionais sobre castores, os investigadores estimaram que no ano 2000 o efectivo das duas espécies era de 10 milhões de castores (a espécie euroasiática tem menos de um milhão de indivíduos). A área da superfície de água associada às represas construídas por estas populações era de 42.000 quilómetros quadrados – equivalente a quase metade de Portugal continental.

A partir daqui, e usando modelos matemáticos, os cientistas estimaram que esta superfície seria responsável pela libertação de até 800 milhões de quilos de metano em 2000. Por comparação, este metano é apenas 15% daquele que os animais selvagens que mastigam erva libertam nos gases que emitem. Ou, para se ter outra perspectiva da forma como a Terra “expira” este gás, os lagos de todo o planeta libertam anualmente 72.000 milhões de quilos de metano, cerca de 60 vezes mais do que as represas dos castores para o ano de 2000.

Ainda assim, os autores do trabalho pensam que a quantidade de metano libertado pelo trabalho dos castores em 2000 foi 200 vezes maior do que no início do seculo XX. Além disso, as populações deste animal ainda não voltaram ao seu tamanho original, antes de serem caçadas exaustivamente, principalmente na Europa. Há, por isso, margem para a expansão das espécies, da área das represas e do metano que vai para atmosfera por esta via.

No entanto, há outras fontes de metano que os autores dizem ser preciso monitorizar, como o metano que é libertado pelo derretimento do permafrost – o subsolo congelado das regiões subpolares – devido às alterações climáticas. Há também metano a ir para atmosfera devido às actividades humanas.

Mas, para solucionar o problema dos gases libertados com efeito de estufa, é preciso primeiro resolver o problema da combustão do petróleo, carvão ou gás natural que emite dióxido de carbono para o ar, e cuja concentração tem aumentado desde a revolução industrial. Em 2005, a concentração deste gás era 213 vezes maior do que a do metano.

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