Morte de dois polícias em Nova Iorque reacende debate sobre discriminação racial

Bill de Blasio, o mayor da cidade, está no centro de um debate tenso entre os que protestam contra a violência policial sobre as minorias e os que o acusam de pôr em causa a autoridade da corporação. Obama pediu para que os americanos “rejeitem a violência”.

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Bill de Blasio está a ser criticado pela polícia REUTERS/Stephanie Keith
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Wenjian Liu, de 32 anos, foi um dos polícias mortos REUTERS/NYPD
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Rafael Ramos, de 40 anos, foi o outro polícia assassinado REUTERS/NYPD

Numa esquina de uma movimentada zona comercial em Brooklyn, no bairro Bedford-Stuyvesant, os agentes Wenjian Liu, 32 anos, e Rafael Ramos, 40, foram várias vezes baleados à queima-roupa, na cabeça e tronco, na noite de sábado, quando estavam dentro do carro-patrulha. O atirador, Ismaaiyl Brinsley, 28 anos, viajara nessa noite, de propósito, de Baltimore, para assassinar dois agentes (como anunciou a sua conta na rede social Instagram, citada pelo New York Times). Brinsley acabou por se suicidar, também a tiro, na estação de metro de Myrtle Wiloughby.

Os agentes Liu e Ramos foram completamente surpreendidos, e segundo o relatório preliminar da polícia, nem tiveram tempo de pegar nas suas armas para reagir. O assassino planeara a acção. “Eles levam um dos nossos, nós levamos dois dos deles”, escreveu no Instagram. As autoridades acreditam que Brinsley matou a namorada, em Baltimore, antes de partir para Nova Iorque.

O Presidente Obama fez uma declaração, na noite de sábado, pedindo aos cidadãos que privilegiem as palavras e "rejeitem a violência".

A pretensa “vingança” aconteceu depois de meses de indignação pelo caso Eric Garner, morto nas ruas de Staten Island, Nova Iorque, por asfixia, por um grupo de agentes que o interpelaram (na sequência de uma multa, anterior, por venda clandestina) quando estava a vender cigarros avulso. Garner repete, num vídeo que mostra os acontecimentos, “não consigo respirar”, enquanto o agente Daniel Pantaleo o imobiliza, por trás, apertando-lhe o pescoço com o braço.

No início de Dezembro, um grande júri decidiu não acusar Pantaleo. Os protestos contra a violência policial, que estavam em escalada desde os acontecimentos de Ferguson, no Verão, após a morte do jovem Michael Brown, tomaram conta das ruas de Nova Iorque. E é aí que entra o mayor Bill de Blasio…

Como liberal, que é pai de filhos mestiços, De Blasio tentou a quadratura do círculo: não comentou o arquivamento do processo, evitando questionar os métodos da polícia que tutela e, por outro lado, permitiu que os manifestantes expressassem a contestação à polícia nas ruas.  

Por isso, uma das primeiras reacções de sectores da polícia às mortes dos dois agentes em Brooklyn foi para acusar o mayor de ter “sangue nas suas mãos”. Citado pelo New Tork Times, o presidente da Associação de Beneficência dos Polícias, Patrick Lynch, acusou os manifestantes anti-violência de “destruírem o trabalho dos polícias”. E apontou a principal responsabilidade a De Blasio. Um vídeo, divulgado na madrugada de domingo, mostra dezenas de agentes a virar as costas a De Blasio, quando este se encaminhava para a conferência de imprensa em que reagiu às mortes de Liu e Ramos.

Aí, De Blasio, acompanhado pelo comissário da polícia, William J. Bratton, condenou o homicídio: “[Foi] um ataque a todos nós, e a tudo o que consideramos querido”. E adiantou que já tinha conversado com o filho de 13 anos do agente Ramos, “que não conseguia compreender a razão para o que aconteceu ao seu pai”.

Uma das principais queixas dos sindicatos da polícia contra o mayor surgiu quando De Blasio afirmou, na sequência do arquivamento do caso Garner, que teme que o seu próprio filho, Dante, venha a ser alvo de discriminação racial por parte da polícia. O tratamento dado a uma criança branca, disse, “é diferente”: “Esta é a realidade neste país. E desde muito cedo, com o meu filho Dante, temos repetido: ‘Se um agente da polícia te abordar não te mexas, nem faças gestos bruscos, não tentes tirar o telemóvel do bolso’. Porque sabemos, infelizmente, que por ser um jovem de cor tem muito mais probabilidades de ser mal interpretado."

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