Basta!

Oliver Ready, atendendo ao nome e ao apelido dickensianos, traduziu Dostoievsky como se fosse Oliver Twist. O resultado é fulminante: é a primeira tradução de Crime e Castigo que parece escrita anteontem.

Vivo com uma mosca do tamanho e peso de uma moeda de dois euros. Não a mato. Ela mal pode mexer-se. Passam-se dias sem eu a ver. Estamos à boca do Inverno e, enquanto eu sonho com o Verão que vem, ela nem sequer sabe que vai morrer.

Nem sei como escrevi o parágrafo anterior sem pontos de exclamação e de interrogação ou reticências fatalistas, destituído de empatias e repugnâncias histriónicas.

É que estou a ler a tradução inglesa e inspirada de Oliver Ready, que tem a garantia oxoniana de St. Antony's College (onde Maria Filomena Mónica, António Barreto e eu fomos os mais distintos visiting fellows de sempre), de Crime and Punishment, de Dostoievsky.

São 750 páginas por 7,19 libras esterlinas na Amazon.co.uk. O paperback da Penguin é gordinho e tem uma capa boa. A grande concorrente é Anna Karenina, de Tolstoy, também traduzido em 2014 para inglês por Rosamund Bartlett, a maravilhosa biógrafa e tradutora de Tolstoy. A capa é dura e as páginas são 896, mas o preço é 13,29 libras, embora se arranjem exemplares novos por 8,09 libras.

Oliver Ready, atendendo ao nome e ao apelido dickensianos, traduziu Dostoievsky como se fosse Oliver Twist. O resultado é fulminante: é a primeira tradução de Crime e Castigo que parece escrita anteontem.

Dostoievsky – que Agustina admira e ultrapassa – escrevia sempre no presente nervoso, histérico e transcendente.

A tradução de Oliver Ready fascina durante as primeiras duzentas páginas, mas depois massacra e abomina-se.

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