Passos mantém coligação em banho-maria

O presidente do PSD antecipou-se a Relvas e lembrou aos membros do Conselho Nacional que uma coligação não pode ser só um arranjo táctico.

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Nuno Ferreira Santos

Miguel Relvas entrou no Conselho Nacional, segunda-feira à noite, com o projecto de radicalizar a defesa de que é urgente que o PSD e o CDS entrem em acordo sobre a renovação da coligação que os une no Governo do país. Uma estratégia pré-eleitoral e a longo prazo que incluía, mesmo, a definição da escolha do apoio a um candidato presidencial comum.

Mas ao abrir a reunião, o presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, abordou o assunto da coligação em termos que esvaziaram a urgência que Relvas queria dar à solução a encontrar pelo PSD para se apresentar às legislativas.

A ideia deixada por Passos Coelho, logo no início, foi a de que há um tempo próprio para a preparação de um projecto político eleitoral e de poder. E que esse tempo é necessário para que seja encontrado o tom e o conteúdo de um acordo de governação a apresentar ao eleitorado, o qual venha a garantir uma maioria absoluta que permita a esse projecto ter sucesso.

O líder do PSD sustentou, por outro lado, que o seu partido não deve precipitar-se em acordos tácticos apenas com o intuito de somar votos.

A urgência de Relvas
A intervenção de Passos cortou assim o tom de urgência que poderia ganhar a posição levada por Miguel Relvas para o conselho nacional, onde foi notória a existência de uma dissonância quanto à estratégia do partido entre o primeiro-ministro e o seu antigo braço-direito. Lendo uma intervenção previamente escrita e que foi posteriormente divulgada pela Agência Lusa, Relvas defendeu que é tempo de definir uma proposta para as legislativas e que o PSD deve estabelecer um acordo de coligação com o CDS-PP.

Miguel Relvas referiu que, segundo as sondagens, "hoje, o PS ganharia as eleições", mas acrescentou que faltam "cerca de nove meses" e concluiu que é preciso "arregaçar as mangas" e "começar desde já a inverter esta tendência".

Para Relvas, este é o momento indicado para PSD e CDS apresentarem um projecto de governação, uma "parceria estratégica para os próximos quatro anos", que deve também tratar da questão da escolha do próximo Presidente da República, a eleger no início de 2016.

O antigo número dois de Passos considerou que a actual maioria ultrapassou "com sucesso" o período de emergência, mas que não lhe basta apresentar resultados para disputar a vitória nas legislativas de 2015. Sublinhando a necessidade de impedir "que se enquiste a ideia de que o PS vai ganhar", defendeu: "É tempo de arregaçar as mangas e definir com o nosso parceiro de coligação o tempo e o modo da proposta que iremos submeter aos portugueses. Quanto ao tempo, como já tive ocasião de afirmar publicamente, considero que estamos no momento indicado para apresentar um projeto de governação para os próximos quatro anos".

No documento divulgado pela Lusa, Miguel Relvas afirma: "É neste pressuposto básico que defendo que deve ser renovado o acordo de coligação, numa parceria estratégica para os próximos quatro anos. Primeiro, porque os portugueses esperam de nós verdade e clareza quanto à proposta de governação para os próximos anos. E depois, porque importa que, tão cedo quanto possível, coloquemos todas as nossas atenções na concretização da mesma."

Manifestando-se convicto de que "esta é também a vontade" do CDS, Relvas insistiu: "Vamos então trabalhar no sentido de concretizar o acordo para a nova legislatura, o qual não pode deixar de fora uma tão relevante quanto determinante eleição, qual seja a do próximo Presidente da República".

A confiança do PSD
Enquanto a reunião, que terminou de madrugada, decorria, o vice-presidente e porta-voz do PSD, Marco António Costa, saiu da sala para fazer declarações aos jornalistas. Aproveitando o momento para repetir as críticas ao PS por recusar entendimentos com a maioria, acusou os socialistas de se demitirem da resolução de problemas por taticismo e falta de coragem.

Mas as declarações de Marco António Costa serviram sobretudo para apresentar uma interpretação da intervenção de Passos Coelho dentro da reunião, que resumiu como a forma de o líder deixar "uma palavra de confiança relativamente ao ano de 2015" e " uma linha de forte determinação do PSD em continuar a fazer o seu trabalho diariamente até às próximas eleições legislativas".

E frisou que "haverá em tempo próprio” uma decisão sobre coligação", salientando que PSD e CDS têm "uma posição em tudo similar", sobre a forma como ponderar uma coligação e preparar um programa eleitoral. "Julgo que foi o doutor Paulo Portas que o afirmou, nem muito cedo, nem muito tarde, haverá o momento oportuno para discutirmos e para conversarmos", acrescentou.

Interrogado sobre qual é o tempo máximo para haver uma decisão quanto a isso, o social-democrata respondeu: "Aquilo que nós gostaríamos era de estar a gastar esse tempo a estar a construir com o maior partido da oposição soluções de médio longo prazo para problemas de fundo do país".

Entretanto, referiu, o PSD "está a trabalhar temas para o futuro do país" no quadro do seu gabinete de estudos e das conferências realizadas no âmbito dos seus 40 anos: "É nossa obrigação, esse trabalho está a ser feito". Marco António Costa referia-se assim ao facto de o PSD ter feito já a abordagem do tema da natalidade e da quebra democrática, bem como o da territorialidade e densidade populacional em reuniões sucessivas, o que é visto como uma forma de o partido estar também a preparar o seu programa eleitoral à semelhança do que decidiu o CDS em conselho nacional no passado fim-de-semana. E que esses conteúdos programáticos são assim uma espécie de trabalho-de-casa que poderá reverter para um eventual acordo de coligação.

A reunião que ficou marcada pelas intervenções dissonantes de Passos e Relvas serviu ainda para serem aprovadas por unanimidade as contas do partido relativas às eleições autárquicas de 2013 e às europeias de 2014, as cglobais de 2013 e o orçamento partidário para 2015. Presentes estiveram os ministros Jorge Moreira da Silva, também vice-presidente do PSD, Luís Marques Guedes, José Pedro Aguiar-Branco, Maria Luís Albuquerque e Miguel Poiares Maduro.

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