Um mau argumento para privatizar a TAP

Passos Coelho pode garantir que se a TAP for privatizada não haverá despedimentos?

Esta é a segunda vez que este Governo tenta privatizar a TAP. E, tal como da primeira, Passos Coelho parte para a venda da companhia de bandeira nacional sem tentar um consenso mínimo, seja político, seja social. Da primeira vez, em 2012, quando a TAP esteve prestes a ser vendida ao colombiano Gérman Efromovich, a coisa não correu bem. E agora, volvidos dois anos, o Governo volta a tentar vender a TAP, mas a operação volta a estar envolta num ambiente de grande contestação.

O Governo tem toda a legitimidade legal para privatizar uma empresa. Mas, para o fazer, sobretudo quando não tem o apoio dos partidos da oposição, tem de apresentar argumentos sólidos e convincentes para que a privatização não seja interpretada apenas como uma vontade ideológica.

Esta sexta-feira, no debate quinzenal no Parlamento, Passos Coelho ensaiou um argumento. A TAP só tem neste momento duas soluções: ou é privatizada ou sofre um processo de reestruturação que terá de passar por um despedimento colectivo. O primeiro-ministro até pode ter razão; se o Governo quiser injectar dinheiro na companhia, Bruxelas pode obrigar a TAP a passar por um processo de reestruturação que, sim, pode terminar em despedimentos. Mas este argumento só seria válido se o caderno de encargos da privatização da empresa tivesse uma cláusula que impedisse o novo dono da TAP de despedir trabalhadores.

Passos tenta ainda passar a ideia de que esta privatização é urgente. Diz que, “se deixarmos tudo como está, a TAP vai desaparecer”. É preciso recordar que desde 1994 que andamos a discutir a privatização da TAP e que desde 1999 a empresa deixou de receber dinheiros públicos. E ainda não desapareceu. Foi o próprio ministro da Economia que, na semana passada, no mesmo Parlamento, disse não acreditar que “a TAP deixará de existir no curto prazo” caso se mantenha na esfera do Estado.

Sugerir correcção
Ler 13 comentários