O Serviço Nacional de Saúde é como um jarrão chinês

Só quando o jarrão se desfizer, é que será possível fazer algo de novo.

Um jarrão chinês de uma dinastia com jarrões de porcelana muito preciosos. Preciosos quando inteiros, claro está, que partidos não valem nada. Este jarrão pertence a Portugal e aos portugueses, está exposto e todos olham para ele muito impressionados e inchados com tal preciosidade.

Só que este jarrão está todo partido, todo aos pedacinhos. No seu interior estão milhares de pequenos adesivos a colar os pedacinhos do jarrão. São os profissionais de saúde. De fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

De vez em quando, um dos adesivos fraqueja, ou morre, ou se reforma ou emigra. Os pedacinhos do jarrão que estavam fixos por esse adesivo começam a sair do sítio, aumentando a tensão sobre todos os outros adesivos. Então os adesivos gritam uns aos outros “alguém vá segurar aqueles pedaços! Senão isto cai tudo!”. E os adesivos adjacentes lá se esticam mais um pouco para segurarem os pedacinhos soltos. E já todos os adesivos estão esticados, a segurarem mais pedacinhos do que conseguem. E os adesivos já quase se rompem, e os pedacinhos nem estão bem fixos. Mas, do lado de fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

Cada vez há menos adesivos e cada vez mais pedaços do jarrão se vão partindo.

Do lado de dentro do jarrão, todos os adesivos olham uns para os outros e para as paredes fragmentadas. É para eles óbvio que não há solução para a situação. Mais cedo ou mais tarde o jarrão vai desfazer-se. Com estrondo e de forma completa e irreversível. Há tanto tempo que os adesivos são responsáveis por manter o jarrão de pé, que ainda nenhum teve coragem de ser o primeiro a deixar cair pedacinhos. Queixam-se, refilam, fazem avisos sobre o perigo, mas continuam a esticar-se e a segurar mais pedacinhos do que conseguem. E do lado de fora, não se vê, só se observa o jarrão, aparentemente intacto e valioso.

O director da exposição não pensa assim. E mostra o aparentemente bonito jarrão aos outros. E tenta provar o bom estado do jarrão ao conseguir manter o seu bom aspecto usando cada vez menos adesivos.

E os outros concordam e dizem “este jarrão é uma grande conquista! Ai de quem o queira destruir!”. E quando algum dos adesivos tenta dizer que o jarrão vai partir, que não é mais possível segurá-lo, zangam-se com ele.

Mais cedo ou mais tarde, o jarrão vai desfazer-se. Com estrondo e de forma completa e irreversível. Quando isso acontecer, os outros vão achar que a culpa foi dos adesivos, que não seguraram indefinidamente os pedacinhos do jarrão partido, permitindo que todos continuassem a vê-lo aparentemente intacto.

A única solução é a dissolução. Só quando o jarrão se desfizer, é que será possível fazer algo de novo.

Médico

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