Malala espera ter carreira na política e “ser primeira-ministra do Paquistão”

A mais jovem laureada com o Nobel da Paz, que recebeu esta quarta-feira juntamente com o activista indiano Kailash Satyarthi, diz que “quer servir o país”.

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Malala considera hipótese de fazer política no Paquistão Olivia Harris/Reuters

A activista paquistanesa Malala Yousufzai disse em entrevista à BBC que espera servir o seu país e, declarando-se inspirada pela antiga primeira-ministra Benazir Bhutto, disse que poderia fazê-lo através da política.

“Se puder servir melhor o meu país através da política e sendo primeira-ministra escolheria isso definitivamente”, disse Malala numa entrevista no programa Hardtalk da BBC antes da cerimónia em que recebeu o Prémio Nobel da Paz. Bhutto foi assassinada em 2007, quando fazia campanha para as eleições do ano seguinte, depois de ter sido duas vezes primeira-ministra do Paquistão.

“Quero servir o meu país e o meu sonho é que o meu país se torne um país desenvolvido e que eu veja todas as crianças ter educação.”

Malala foi atacada pelos taliban em 2012 com um tiro na cabeça quando ia num autocarro para a escola na região do vale do Swat, onde vivia. Os taliban queriam castigá-la por defender a educação das raparigas. Hoje vive e estuda no Reino Unido, onde foi operada após o atentado.

Com 17 anos, Malala é a mais jovem laureada com o Nobel da Paz, que recebeu esta quarta-feira juntamente com o activista indiano Kailash Satyarthi. A idade média dos 95 laureados com o prémio desde 1901 é de 62 anos.

“Este Prémio da Paz é muito importante para mim e deu-me muita esperança, muita coragem, e sinto-me mais forte do que antes, porque vejo que tenho muita gente comigo”, disse ainda Malala. “Há mais responsabilidades, mas eu também já tinha sentido a responsabilidade eu própria. Sinto que tenho de responder perante Deus e mim própria e que devo ajudar a minha comunidade. É o meu dever.”

Na cerimónia da entrega do prémio, Malala garantiu que vai continuar esta luta até que veja todas as crianças na escola”.

Já Satyarthi, 60 anos, 35 dos quais dedicados à luta contra a exploração e trabalho infantil, disse estar em Oslo a “representar o som do silêncio” e os “milhões de crianças que são deixadas para trás” – na cerimónia havia, a seu pedido, uma cadeira vazia para representar estas crianças. “Não há maior violência do que negar os sonhos das nossas crianças”, declarou.

“Recuso-me a aceitar que o mundo seja demasiado pobre [para escolarizar as crianças], quando uma só semana de despesas militares mundiais seria suficiente para termos todas as crianças nas aulas”, disse o laureado indiano. “Recuso-me a aceitar que as correntes da escravatura sejam mais fortes do que a busca da liberdade.”

A organização de Satyarthi, Bachpan Bachao Andolan (Movimento para Salvar a Infância) tirou dezenas de milhares de crianças do trabalho em indústrias pesadas e por isso recebeu ameaças e viu dois colegas serem mortos. 

O Presidente do Comité Nobel, Thorbjorn Jagland, sublinhou a importância da educação: “O caminho para a democracia e liberdade está feito de conhecimento.” O responsável sublinhou os grandes riscos pessoais que ambos os laureados correram pelo seu activismo. 

O comité tinha sublinhado antes a importância de o prémio ter sido partilhado por uma muçulmana e um hindu, uma paquistanesa e um indiano, juntos numa luta pela educação e contra o extremismo.

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