Partido bávaro desiste de obrigar imigrantes a falarem alemão em casa

CSU, o partido-gémeo da CDU de Merkel, modifica proposta depois de esta ser criticada e ridicularizada – até pelos próprios conservadores.

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Andreas Scheuer, da CSU, diz que o partido nunca quis impor uma obrigação mas apenas dar uma sugestão Sven Hopee/AFP

O partido democrata-cristão da Baviera (CSU) provocou indignação e uma onda de comentários trocistas ao sugerir, num documento em discussão para a conferência do partido, que “pessoas que queiram permanecer [na Alemanha] deveriam ser obrigadas a falar alemão em público e na família”.

A proposta do partido-gémeo da CDU da chanceler, Angela Merkel, e que participa no Governo federal na coligação entre democratas-cristãos e sociais-democratas, surge numa altura em que o aumento da imigração para o país que é o motor da economia europeia está a fazer soar vozes críticas, por exemplo, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que defende restrições à imigração (e também que os países em dificuldades saiam do euro), e quando sondagens mostram atitudes cada vez mais hostis em relação a muçulmanos – ainda no fim-de-semana passado uma acção de protesto em Dresden arrastou uma multidão contra “a islamização” da Alemanha.

A CSU também defendeu uma lei dificultando a possibilidade de novos imigrantes chegarem à Alemanha sem terem contribuído para a Segurança Social do país e usufruírem do sistema de protecção social.

Mas ninguém parecia estar preparado para uma proposta tão forte como a de que os imigrantes teriam de falar alemão na sua própria casa, apesar de o domínio da língua ser um problema – segundo a OCDE, 17% das pessoas nascidas na Alemanha em famílias de imigrantes têm dificuldade em falar ou escrever alemão correctamente.

“Os políticos não têm nada a ver com o facto de eu falar latim, klingon [a língua ficcional do Star Trek – O Caminho das Estrelas] ou o dialecto do [estado federado do] Hesse”, declarou Peter Tauber, da CDU, no Twitter.

“Só nos faltava a polícia da língua da CSU”, reagiu a líder do SPD (partido social-democrata) na Baviera, Natascha Kohnen, argumentando que seria impossível garantir a aplicação de uma medida destas.

“A CSU entrou no Absurdistão”, criticou, pelo lado, Yasmin Fahimi, secretária-geral do SPD. “Seria hilariante, se não fosse perigoso.”

No Twitter, os internautas não demoraram a ver potencial cómico na sugestão. Com a palavra-chave YallaCSU (yalla é “vamos lá” em árabe) alguns utilizadores da rede social pediam que a proposta fosse mais além: “Querida CSU, por favor proíbam os sites em línguas estrangeiras nas salas de estar privadas também. Há uma necessidade urgente de acção!”

Houve mesmo quem discutisse se esta proposta não poderia afectar os próprios bávaros, que falam dialecto (há dezenas, se não centenas, de dialectos na Alemanha): um artigo no semanário Die Zeit questionava se o dialecto bávaro também é alemão. Outro utilizador do Twitter reagia: “Troçar dos outros é horrível. Muitos membros da CSU também têm dificuldade em falar alemão.” O Huffington Post (versão alemã) mostrava alguns videos de membros da CSU que “também precisam de um curso de alemão”. 

Nem o Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros ficou de fora, declarando no Twitter: “Continuamos a falar em linguagem diplomática.”

Perante tudo isto, a CSU reformulou o texto, dizendo antes que quem quiser viver na Alemanha “deve ser motivado a falar alemão no dia-a-dia”. O secretário-geral do partido, Andreas Scheuer, garante que tudo não passou de um mal-entendido e que a CSU nunca pretendeu falar de qualquer obrigação.

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