BES: Ricciardi recusa responsabilidade na queda do império e acusa Salgado

Presidente do BESI diz que já tinha pedido um inquérito, em Novembro de 2013, para apurar as responsabilidades sobre a situação financeira e contabilística do grupo.

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José Maria Ricciardi, presidente do BESI, do grupo BES. Daniel Rocha

O presidente do Banco Espirito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi, responsabilizou o primo Ricardo Salgado pela queda do império Espírito Santo, numa carta enviada, em Maio, ao Banco de Portugal e publicada esta terça-feira no Diário de Notícias.

Na carta, datada de 27 de Maio de 2014, ao vice-governador do Banco de Portugal, Ricciardi desmentiu Ricardo Salgado, ex-presidente do BES e do GES, e recusou qualquer quota de responsabilidade pelo buraco detectado no banco.

A missiva, a que o Diário de Notícias (DN) teve acesso, foi enviada cinco dias depois de Ricardo Salgado ter afirmado, em entrevista ao Jornal de Negócios, não ter sido o único responsável pela crise no banco e no Grupo Espirito Santo (GES), avançando que os vários membros da família no Conselho Superior do Grupo tinham cometido erros.

Esta terça-feira, Ricardo Salgado e o seu primo José Maria Ricciardi vão ser ouvidos, em separado, pela primeira vez, na comissão parlamentar de inquérito ao BES para explicarem como se desmoronou o maior grupo financeiro português.

Na carta publicada pelo DN, Ricciardi explica que as contas e os movimentos financeiros da Espirito Santo International, holding do Grupo GES, eram tratados por um "núcleo restrito" sob a direcção do antigo homem-forte do BES, Ricardo Salgado, garantindo nunca ter sido chamado a interferir.

Na altura, o presidente do BESI alertou que já tinha pedido um inquérito, em Novembro de 2013, para apurar as responsabilidades sobre a situação financeira e contabilística do grupo. No entanto, o banqueiro não revelou publicamente a sua posição pois considerava que tal penalizaria a imagem e reputação do BES.

O ano 2014 ficará para sempre ligado à queda do império Espírito Santo, consumada com o colapso do BES, a jóia da coroa, que foi alvo de uma intervenção pública da qual resultou o Novo Banco.

As desavenças públicas entre Ricardo Salgado, líder histórico do Banco Espírito Santo, e José Maria Ricciardi, presidente do BESI, no final de 2013, foram o primeiro sinal.

Mesmo depois de emitirem uma declaração conjunta em que apaziguavam a tensão existente, em Novembro de 2013, a "guerra" entre primos não deixou boas perspectivas para 2014.

Durante os primeiros meses do ano, a sucessão de Ricardo Salgado continuava a ser notícia.

Em meados de Fevereiro, o BES apresentou um prejuízo de 517,6 milhões de euros relativamente a 2013, quando tinha fechado 2012 com um lucro de 96,1 milhões de euros.

Na apresentação dos resultados, a última em que os órgãos de comunicação social foram convocados, Salgado admitiu a possibilidade de o BES vir a fazer um novo aumento de capital.

Com a divulgação dos resultados do BES relativos ao primeiro trimestre, marcado pelo prejuízo próximo de 90 milhões de euros é também confirmado que o banco vai mesmo avançar com um aumento de capital superior a mil milhões de euros.

E é o prospecto desse aumento de capital, publicado em Maio, que, entre muitas outras informações relevantes, confirma a existência de irregularidades graves nas contas da holding Espírito Santo International (ESI).

É o dia que marca o início do fim do império da família Espírito Santo.

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