BESI faz subir para 445 milhões encaixe do Novo Banco com chineses

O Haitong, da família de Cheng Yu Tung, bilionário que foi sócio de Stanley Ho, paga 379 milhões por 100% do capital do BESI.

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José Maria Ricciardi e a sua equipa ficam nos cargos Miguel Manso

O BESI, o banco de investimento do Novo Banco (ex-BES), vai ser vendido por 379 milhões de euros ao grupo chinês Haitong International Holding, com sede em Hong Kong, detido integralmente pela Haitong Securities, cotada na bolsa de Xangai e Hong Kong.

O negócio foi formalizado domingo à noite, na sede do Novo Banco (ex-BES), na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Com a venda do banco de investimento, a instituição financeira agora liderada por Stock da Cunha encaixa um total de 445 milhões de euros através de investidores chineses.

Antes do acordo de venda do BESI, cujo negócio precisa ainda de receber o aval de várias entidades, como o Banco de Portugal e a Comissão Europeia, o Novo Banco já alienara o capital que detinha na Espírito Santo Saúde aos chineses da Fosun, em troca de 66,5 milhões.

Aliás, a Fosun, dona da Fidelidade e da ES Saúde e detentora de uma posição na REN, já mostrou interesse em concorrer à venda do Novo Banco, algo que terá de formalizar até ao final deste mês.

A operação de venda do BESI ao grupo Haitong (o segundo maior banco de investimento chinês), liderada pelo seu presidente, José Maria Ricciardi, implica a permanência em funções da actual equipa de gestão do banco (encabeçada por Ricciardi), e poderá envolver ainda a tomada de posição dos gestores portugueses. Já para o banco liderado por Eduardo Stock da Cunha, o negócio faz subir o rácio de capital do Novo Banco, que é de 9,2%, acima do recomendado pelo Banco de Portugal (de 8%), para 9,7%.

Por parte do Haitong, este já veio a público afirmar que a compra do BESI vai possibilitar “reforçar a internacionalização da estratégia empresarial da empresa e alargar a sua cobertura geográfica”.

Com actividade no Brasil, Índia (corretagem), Reino Unido, Irlanda, Polónia, Espanha, Estados Unidos e México, e com 825 colaboradores, o BESI registou um lucro semestral de 2,5 milhões de euros, o que corresponde a um aumento de 21,5% em termos homólogos.

Até aqui, o grupo Haitong, além de uma forte presença na China continental, estava apenas em Hong Kong e Macau (onde entrou em 2000), além de Singapura e Tóquio. Numa carta endereçada aos trabalhadores, Ricciardi, que já estava a tentar a autonomização do BESI quando Salgado era o líder do BES (hoje os dois vão ao Parlamento falar sobre o colapso do grupo), sublinha que o negócio, quando se concretizar, será um “marco histórico”, já que é a primeira vez que uma instituição financeira como o Haitong compra um banco de investimento europeu.

Sócio de Stanley Ho
O Haitong é dominado pelo grupo familiar fundado por Cheng Yu Tung. Multimilionário, Cheng Yu Tung, hoje com 89 anos, construiu, à semelhança de Stanley Ho, a sua fortuna no rescaldo da II Guerra Mundial, após ter fugido da China para Macau (de onde saiu, depois da guerra, para Hong Kong). Aliás, os dois estiveram juntos nos negócios, quando se lançaram no mundo do jogo.

Nos anos 60, de acordo com o Financial Times, Cheng Yu Tung vendeu a sua posição quando o grupo de Stanley Ho detinha o monopólio do jogo em Macau, conseguindo um enorme encaixe financeiro. A revista Forbes, que o coloca entre os 100 mais ricos do mundo, refere que Cheng Yu Tung ainda detém uma pequena posição na Sociedade de Jogos de Macau (SJM).

Actualmente o império do patriarca é liderado pelo filho, Henry Cheng, e pelos netos, com destaque para Adrian e Sonia. Cheng Yu Tung começou a sua vida empresarial através do ouro, quando ficou com uma loja do sogro. A Chow Tai Fook (algo como “boa sorte”, em cantonês), ligada ao segmento de luxo, é hoje a maior rede de ourivesarias do mundo em termos de capitalização bolsista. O grupo detém ainda diversos outros negócios, com destaque para o imobiliário (onde se inclui o Hotel Carlyle, em Nova Iorque).

Expansão chinesa
No sector bancário, já há dois bancos chineses a marcar presença em Portugal, o ICBC e o Bank of China, com o primeiro a focar-se apenas na área de investimento. No caso do Bank of China, a filial de Lisboa, que começou as suas operações em Julho do ano passado, depende do Luxemburgo, sede dos negócios europeus.

De acordo com o relatório de 2013 do Bank of China Luxemburgo, o grupo já tem filiais em Bruxelas, Roterdão, Estocolmo e Varsóvia, além de Lisboa. A filial de Lisboa, gerida por Yang Qing, foi “o primeiro banco chinês estabelecido em Portugal a oferecer serviços financeiros [financiamento e banca de retalho] ao mercado local”. “Aproveitando a internacionalização das empresas chinesas, bem como o aumento dos investimentos europeus na China, o banco irá continuar a procurar ser o principal fornecedor de serviços bancários para esses clientes”, lê-se no mesmo documento.

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