Isabel dos Santos admite retirar OPA à PT SGPS se PT Portugal for vendida

"Braço direito" da empresária angolana garante que o preço da Oferta Pública de Aquisição (OPA), de 1,35 euros, não vai subir.

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Isabel dos Santos tem 19% do BPI Nuno Ferreira Santos

Mário Leite da Silva, gestor responsável pela Terra Peregrin, sociedade veículo criada por Isabel dos Santos para lançar a Oferta Pública de Aquisição (OPA) à PT SGPS, afirmou esta quinta-feira que “o mais provável” é que a oferta não avance, se a brasileira Oi vender a PT Portugal.

Um dos pressupostos da OPA é que “não haja venda de activos relevantes e estratégicos” e a empresa que detém a Meo é um dos desses activos. Assim, se a PT Portugal for vendida, “a Terra Peregrin terá de decidir se avança ou deixa cair a oferta. O mais provável é que a deixemos cair”, afirmou Mário Leite da Silva, num encontro com jornalistas.

Já uma eventual venda da participação de 25% na Unitel, onde Isabel dos Santos tem outros 25%, e que é detida pela Oi através da holding Africatel, não parece motivo suficientemente forte para deixar cair a OPA à PT SGPS. Ainda assim, sobre este tema, Mário Leite da Silva recordou que aquilo que existe é uma comunicação da Oi a dizer que "não há interessados" nos activos africanos.

Mário Leite da Silva, que deu um rosto à operação, na ausência de Isabel dos Santos, sublinhou que o objectivo é criar um operador assente na lusofonia, com mais de 100 milhões de clientes (algo que também Zeinal Bava sustentava quando anunciou a fusão PT/Oi) e que seria interessante que a Unitel fizesse parte desse projecto. Mas notou que “a PT no universo da Oi é uma coisa completamente diferente da Unitel” e que por isso a OPA não seria retirada se a posição na empresa angolana fosse vendida.

Pelas palavras de Mário Leite da Silva, percebe-se que Isabel dos Santos pretende manter o capital que detém na NOS, mesmo se a OPA à PT SGPS tiver sucesso. Questionado sobre o tema, o gestor afirmou que a Terra Peregrin ficaria apenas como accionista indirecta da PT Portugal, através da Oi, onde ficaria com uma posição minoritária. Os reguladores, no entanto, poderão ter outra interpretação. Actualmente, Isabel dos Santos divide o controlo da NOS com o grupo Sonae (dono do PÚBLICO) através da ZOPT.

Preço não sobe
No encontro, realizado com o objectivo de explicar o racional da contrapartida de 1,35 euros oferecida por cada acção da PT SGPS (avaliando a sociedade accionista da Oi em 1210 milhões de euros, a pagar através de capitais próprios e com recurso a dívida), Mário Leite da Silva sublinhou que “o valor é justo e equitativo” e disse que “não vai mexer no preço”.

Há uma linha que separa a PT SGPS antes de 5 de Maio, da PT SGPS de 5 de Dezembro. Entre uma data e outra, a vida da sociedade ficou marcada por momentos “de tal forma dramáticos e pesados” que afectaram o seu valor, que o preço de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) jamais poderia levar em linha de conta a média da cotação nos últimos seis meses, sublinhou Mário Leite da Silva.

Esse é, para a equipa de Isabel dos Santos, o ponto de partida para analisar o preço oferecido pelas acções da PT SGPS: 1,35 euros. A 5 de Maio, a PT transferiu para a Oi todos os seus activos operacionais no decurso de uma operação de fusão; em Setembro, depois de conhecidos os investimentos de 897 milhões de euros na Rioforte, aprovou em assembleia geral um novo acordo que não só lhe deu menos capital na nova empresa (embora com uma opção de compra de 11,4% do capital), como concentrou em si todo o risco de incumprimento da Rioforte.

A 17 de Outubro esse cenário tornou-se mais evidente quando o Tribunal do Comércio do Luxemburgo rejeitou o pedido de gestão controlada da holding do Grupo Espírito Santo (GES), empurrando a Rioforte para um processo de insolvência, confirmado esta semana após rejeição do recurso. É a partir dessa data (17 Outubro) que deverá ser considerado o valor da acção da PT SGPS para efeitos de análise do preço da OPA, sublinhou Mário Leite da Silva (que trabalha com Isabel dos Santos há cerca de oito anos, após ter estado ligado aos negócios de  Américo Amorim).

De acordo com o gestor, nas várias metodologias utilizadas pela Terra Peregrin para analisar o preço, a contrapartida de 1,35 euros representa sempre um prémio para os accionistas. Mário Leite da Silva frisou que, conforme as abordagens (seja face à valorização da PT SGPS entre a decisão de justiça luxemburguesa e do anúncio preliminar, face às cotações da Oi, ou mesmo à comparação com as avaliações de outras empresas brasileiras de telecomunicações) estão em causa prémios entre 7% e 66%, conduzindo a um prémio médio de 33%.

Certo é que todos “os momentos marcantes e decisivos” que afectaram recentemente a PT SGPS “impossibilitam” que seja a cotação média das acções nos últimos seis meses “a medida adequada para avaliar a contrapartida”. E foi isso que Isabel dos Santos transmitiu à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na segunda-feira. O regulador tem agora de se pronunciar sobre o pedido de registo, e o preço da OPA. Em paralelo, também a gestão da PT SGPS terá de se pronunciar sobre a estratégia de Isabel dos Santos, o que deverá acontecer na próxima semana. Mário Leite da Silva assegurou que a Terra Peregrin tem tido “conversas bastante positivas e animadoras” com os accionistas portugueses da PT SGPS, onde se incluem o Novo Banco, Ongoing e Visabeira.

"O que os accionistas da PT SGPS têm de decidir" é se preferem uma oferta firme e um encaixe imediato ou se preferem "esperar por processos de consolidação no mercado brasileiro", afirmou o gestor. Na eventualidade de um cenário de consolidação, as acções da Oi tenderiam a valorizar-se, beneficiando os accionistas da PT SGPS. Mas, ao optarem por vender na OPA, estariam a garantir liquidez imediata.

Os contactos têm existido também com os “mais importantes stakeholders da Oi”, adiantou Mário Leite da Silva. “Partilhamos objectivos, temos é caminhos diferentes para lá chegar. Mas o objectivo é comum; maximizar valor”. O "braço direito" de Isabel dos Santos também fez questão de frisar que o projecto da empresária "não conflitua" com quaisquer planos de consolidação no mercado brasileiro.

Ainda esta semana o ministro das Comunicações do Brasil, Paulo Bernardo, reafirmou a sua oposição a movimentos de consolidação do mercado. “Sempre disse que não remo nessa direcção”, disse o ministro, citado pela revista Exame. “Havendo um movimento do sector, tem de ser avaliado pelo Governo”, sublinhou. Paulo Bernardo acrescentou, por outro lado, que considera “uma notícia fantástica” que a Oi tenha optado por vender activos para investir no Brasil, numa alusão às negociações para vender a PT Portugal.

A PT SGPS é uma holding sem qualquer activo operacional, detendo apenas a posição accionista de 39% na Oi. A PT Portugal é controlada pela empresa brasileira e a sua venda está neste momento a ser negociada com a francesa Altice, que na sua proposta avalia a operadora em 7400 milhões de euros, dos quais 500 milhões ficam condicionados a metas futuras de receitas e rentabilidade.

Apesar de a Oi já ter anunciado que está em conversações finais com a Altice (que terá uma parceria estratégica com os CTT, caso a operação se concretize) e que espera obter as aprovações societárias para concretizar o negócio, o consórcio formado pelos fundos Apax e Bain (e ainda pela Semapa) fez saber depois deste anúncio que mantém o interesse na PT Portugal e está disponível para apresentar uma nova oferta.

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