Polícia que asfixiou suspeito em Nova Iorque não vai a julgamento

Protestos nas ruas contra a morte de Eric Garner, um homem negro de 43 anos. Procurador-geral norte-americano lança investigação federal por "eventuais violações dos direitos cívicos".

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Manifestantes fizeram vigília em Nova Iorque Andrew Burton/AFP

Um grande júri decidiu esta quarta-feira não acusar um polícia norte-americano pela morte de Eric Garner, um homem negro de 43 anos que foi asfixiado durante uma detenção em Nova Iorque, em Julho. A acção policial foi gravada em vídeo e há receios de que se repitam as cenas de violência registadas em Ferguson, no Missouri.

Uma semana depois de um outro grande júri não ter levado a julgamento o polícia que matou Michael Brown, em Ferguson, outra decisão promete incendiar ainda mais a sociedade norte-americana.

O caso passou-se a 17 de Julho, em Nova Iorque, e envolveu um homem de 43 anos, que foi detido na rua por suspeita de estar a vender cigarros ilegalmente.

No vídeo vê-se um dos polícias, identificado como Daniel Pantaleo, a agarrar Garner pelo pescoço e a deitá-lo ao chão, com a ajuda de outros colegas. É também possível ouvir o homem a queixar-se por não poder respirar.

Eric Garner é transportado para uma ambulância, mas acabaria por morrer a caminho do hospital. A autópsia revelou que a morte de Garner, pai de seis filhos, foi causada pela "compressão do pescoço e peito" e pela posição do corpo "durante a submissão física pela polícia", para a qual também contribuíram doenças cardíacas e respiratórias e o seu peso excessivo.

A forma de abordagem utilizada por Pantaleo é proibida pelo Departamento de Polícia de Nova Iorque. O advogado da família de Garner, que revelou a decisão do grande júri, disse estar "estupefacto" com a decisão de não levar o agente a tribunal.

Tal como após a morte de Michael Brown, vários grupos de defesa de direitos cívicos organizaram marchas de protesto. No entanto, nota a CNN, as manifestações foram em geral pacíficas e não envolveram os confrontos registados em Ferguson.

O mayor da cidade Nova Iorque, Bill de Blasio, lamentou a morte de Eric Garner numa declaração com um tom pessoal. De Blasio, casado com a escritora e activista negra Chirlane McCray, é pai de Chiara, de 18 anos, e de Dante, de 16 anos, um jovem conhecido pelo seu penteado estilo afro.

Apesar de não ter denunciado explicitamente a decisão do grande júri, e de não ter exigido uma investigação federal ao caso, Bill de Blasio dirigiu-se à família de Garner. "Isto é muito pessoal para mim. Pensei logo no que significaria perder o Dante. A minha vida nunca mais seria a mesma", disse o mayor de Nova Iorque, que revelou ainda ter aconselhado o seu filho a "ter precauções especiais" se tiver problemas com a polícia.

Tal como aconteceu no caso de Michael Brown, em Ferguson, o procurador-geral norte-americano, Eric Holder, anunciou a abertura de uma investigação federal à morte de Eric Garner por "eventuais violações dos direitos cívicos" – um processo separado da decisão do grande júri e que nunca servirá para levar o agente Daniel Pantaleo a tribunal pela morte de Garner.

O Presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou esta semana que vai tomar medidas para modernizar as forças policiais, que incluem a compra de 50 mil câmaras de filmar individuais para equipar os agentes. O objectivo é ultrapassar a "falta de confiança" entre as comunidades e as forças de segurança.

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