Cerca de 80% dos portugueses querem mais investimento do Estado na área do cancro

Doenças oncológicas são as que mais preocupam dois terços da população em Portugal, revela estudo promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública.

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Objectivo do estudo foi identificar as percepções da população portuguesa sobre a oncologia Gonçalo POrtuguês

A grande maioria, cerca de 80%, dos portugueses defende maior investimento do Estado na área do cancro. O cancro da mama é o que mais preocupa as mulheres e o do pulmão os homens. Os portugueses consideram-se pouco informados acerca da doença. O Serviço Nacional de Saúde é visto como melhor nos cuidados prestados, os privados destacam-se pelo atendimento.

Estas são apenas algumas das conclusões de um estudo, apresentado nesta quarta-feira em Lisboa, desenvolvido no âmbito do projecto Inovar na Saúde, promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública e conduzido por uma empresa de estudos de mercado. O objectivo foi identificar as percepções da população portuguesa sobre a oncologia.

À pergunta “qual a doença que mais o preocupa nos dias de hoje”, a maioria (63%) respondeu o cancro, mas no segundo lugar da lista surge o ébola (10%) e só depois doenças como as cardíacas, o VIH/sida ou os acidentes vasculares cerebrais.

As principais razões apontadas pelos entrevistados para justificar a preocupação com o cancro, visto como a doença “com maior prevalência e mortalidade”, são o facto de “não ter cura” (29%) e ter uma “taxa de mortalidade elevada” (25%). “Parece-me interessante que os inquiridos considerem que esta é frequentemente uma doença que não tem cura. Claramente deve haver um maior esforço dos profissionais de saúde e meios de comunicação para esclarecer quando é que o cancro pode ser curável, como é de facto na maioria das vezes. A percepção sobre esta doença tem de ser melhor”, diz, em comunicado, o director do serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Luís Costa.

Os inquiridos consideram-se pouco informados acerca da doença: só 30% se sentem muito informados, os restantes dizem-se medianamente ou pouco esclarecidos. Luís Costa também entende ser “pertinente” o facto de os cidadãos “quererem ser mais esclarecidos sobre programas de prevenção”, até porque “cerca de 25% dos cancros são evitáveis.”

De uma forma geral, o estudo não regista grandes diferenças na forma como são avaliados os serviços público e privado – 37% não assinalam diferenças (32% dizem que o público é “inferior” ao privado e 31%, pelo contrário, “superior”).

Rapidez e equidade
Outro dos resultados revela que o investimento na área da Saúde é insuficiente para 85% dos portugueses e, para mais de metade (56%), o Estado investe menos agora na área do cancro do que há três anos.

Apesar de 80% defenderem maior investimento público na área do cancro, a percepção também é a de que o Estado gasta mais dinheiro com esta doença do que nas do coração, diabetes ou sida – 49% consideram que o maior investimento vai para a área do cancro.

Mesmo assim, para a maioria dos entrevistados é “mais premente investir” no tratamento de doenças oncológicas do que nas cardiovasculares ou diabetes. E, num outro item do estudo, 37% discordam que o Estado invista o suficiente para ter os tratamentos ou medicamentos mais avançados e eficazes, contra 20% que concordam.

Os portugueses também assinalaram nas respostas que querem “rapidez e equidade no acesso ao tratamento” e 49% consideram que “os tratamentos mais avançados” são “demasiado caros para Portugal”.

Questionados, porém, sobre se em Portugal existem os mesmos tratamentos para o cancro que há nos outros países da União Europeia, 26% concordam, contra 22% que discordam (os restantes não se pronunciaram). A mesma perspectiva surge quando a pergunta é se Portugal tem os melhores tratamentos – 27% acham que sim, 22% dizem que não (os outros não emitiram opinião).

As percentagens também não oscilam muito quando a questão é se, “em Portugal, é dado aos doentes que vivem com cancro o melhor tratamento em termos de medicamentos, independentemente do hospital em que são tratados”: 27% consideram que sim, 20% que não.

Os autores do estudo também salientam que “os portugueses sentem que não são ouvidos pelos políticos e que a Saúde não é prioritária” – 43% acreditam que os cidadãos não têm voz activa nas decisões públicas sobre cancro.

Questionados sobre se os políticos portugueses dão a mesma prioridade ao combate ao cancro do que os da União Europeia, 31% acham que não, contra 20% que sim. E apenas 18% acreditam que o combate à doença é uma prioridade para os políticos no país, contra 38% que discordam que seja.

A amostra do estudo incluiu 1192 pessoas com 18 e mais anos, de vários pontos do país, a quem foram feitas entrevistas presenciais, em Outubro deste ano. 

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