Bloco ensaia modelo de direcção que é “muito difícil” que funcione

À excepção de Catarina Martins e de Pedro Filipe Soares, os restantes quatro nomes que coordenarão o BE têm pouca ou nenhuma visibilidade fora das paredes do partido.

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A actual direcção aponta os nomes dos deputados João Semedo e Catarina Martins Manuel Roberto

É uma história a conta-gotas, mas em sentido único. Os fundadores e dirigentes do BE com maior peso estão afastados da primeira linha do partido. Antes do anúncio da saída de João Semedo este domingo, o ex-coordenador e Catarina Martins ainda tentaram outra solução de direcção, mas saíram vencidos.

Esta segunda-feira ninguém quis dar a cara, mas a saída de Semedo pesa nos ombros da direcção da Bloco. Dirigentes ouvidos pelo PÚBLICO admitem que a “solução é complexa e é muito difícil que funcione”.

“A lista que ganhou na votação das moções políticas na convenção, apesar do empate de delegados, parece que perdeu. Tudo continua igual na liderança parlamentar. E o que era feito por dois passa a ser por seis. É muito difícil que isto funcione”, diz um dirigente.

O PÚBLICO sabe que foram estudadas várias possibilidades. Semedo e Catarina Martins terão proposto inicialmente à lista liderada por Pedro Filipe Soares uma mudança dos dois coordenadores e da liderança parlamentar. A ideia foi recusada. O modelo anunciado no domingo e que deixa agora Catarina Martins como única porta-voz, embora apoiada por uma comissão permanente de cinco dirigentes, entre eles o líder parlamentar Pedro Filipe Soares, foi o único que obteve consenso na reunião da Mesa Nacional. João Semedo sinalizou, desde o primeiro momento, que se afastaria da direcção.

Na solução que irá vigorar nos próximos dois anos, à excepção de Catarina Martins e de Pedro Filipe Soares, os restantes quatro nomes que coordenarão o BE, com funções diferenciadas, têm pouca ou nenhuma visibilidade fora das paredes do partido: Adelino Fortunato, Joana Mortágua, Nuno Moniz e Pedro Soares.

Apesar de João Semedo só ter aderido ao Bloco em 2005, ano em que se tornou deputado e saltou para a primeira linha partidária, a coordenação dos últimos dois anos tornou-o um dos dirigentes mais mediáticos. O anúncio da sua renúncia à coordenação junta-se a outras feridas recentes na imagem pública de um partido que, desde 2011, não consegue inverter os maus resultados eleitorais nem contrariar a tendência de saída de várias figuras de peso: Ana Drago, Joana Amaral Dias, Daniel Oliveira, Rui Tavares (independente, mas que foi eurodeputado pelo partido).

Se a ausência de renovação dos quadros dirigentes era criticada na era de Francisco Louçã, agora o afastamento gradual dos fundadores também pesa na imagem pública do partido. Depois de Francisco Louçã e de Fernando Rosas terem abandonado nesta convenção qualquer cargo dirigente no Bloco, só o fundador Luís Fazenda permanece como membro da Mesa Nacional, o principal órgão de direcção entre convenções, e deputado. Mas na comissão política não se senta nenhum dos três.

Contactado pelo PÚBLICO, Louçã não quis comentar a solução encontrada para a coordenação, que deixa Catarina Martins como única porta-voz. Mas o líder durante 13 anos já tinha sido claro na convenção, ao considerar que “a divisão e a disputa” foram o “maior erro” da história do Bloco, que deve fazer um esforço para se reunificar e ser capaz de apresentar uma resposta clara ao país.

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