Rankings e Evolução Biológica: a importância da diversidade

A aventura da Vida sobre a Terra tem cerca de quatro mil milhões de anos. A biosfera atual é produto deste intensíssimo banco de ensaios que é sobreviver num planeta onde, aparentemente, a única constante é… a mudança! E a melhor teoria científica que nos permite compreender a complexidade e as dinâmicas afetas aos sistemas vivos é a teoria da Evolução, magistralmente publicada em 1859 por Charles Darwin.

Darwin observou que há um pressuposto essencial a qualquer sistema para que possa evoluir e sobreviver: diversidade. De facto, as variações observadas no mundo natural enchem-nos de espanto, desde as mais diferentes formas de vida até ao fascinante mundo molecular. E as vantagens de produzir variabilidade serão de tal forma significativas, que todas as espécies o privilegiam – ou inovando caraterísticas absolutas (através de mutações genéticas) ou fazendo novas combinações com os caracteres já existentes (recorrendo ao sexo). Desta forma, os sistemas vivos evoluem criando continuamente novidade e diversidade – atente-se à capacidade de inovação imprevisível de algumas formas de vida como os vírus da gripe ou da SIDA.

A ideia mais genial de Darwin é, porém, o mecanismo que comanda a evolução: a seleção natural. Esta preconiza que a regulação das variações existentes é feita a partir da competição pela sobrevivência, onde os mais aptos a um determinado e circunstancial meio, vivem e reproduzem-se mais, aumentando o número dos portadores destas caraterísticas. Saliento a circunstancialidade da aptidão – num mundo em permanente mudança, o que hoje é apto, amanhã pode não o ser. Reitero igualmente que não há sobrevivência única dos mais aptos (isso eliminaria a vital diversidade no sistema), mas sim sobrevivência diferencial.

Penso que será interessante paralelizar os sistemas biológicos com o sistema educativo português e os resultados ora apresentados. São factos anualmente reincidentes as Classificações de Exame (CE) sistemática e significativamente inferiores às Classificações Internas Finais (CIF) – para isto contribuem:

a) a natureza de uma prova escrita de duração limitada vs. um processo de avaliação contínua onde se valorizam necessariamente conhecimentos e capacidades de forma contínua e mais diversificada; ?

b) provas escritas com avaliação de conteúdos concetuais e procedimentais (de natureza teórico-prática), que contrastam com uma avaliação interna onde, para além dos conteúdos concetuais, são valorizados conteúdos procedimentais mais diversos, além de conteúdos atitudinais;?

c) os níveis elevados de literacia científica, assim como de língua materna, requeridos para o correto entendimento dos suportes documentais patentes nas provas de exame. De igual modo, constatamos anualmente os melhores resultados dos alunos associados a um maior nível de literacia familiar, assim como a índices de motivação e trabalho mais elevados, o topo dos rankings sistematicamente ocupado por algumas escolas privadas com projetos educativos e grupos de alunos e professores mais estáveis, a estabilidade interanual dos valores da CIF, as oscilações geralmente ligeiras de resultados nas CE (raramente superiores a 10% – normal em provas anuais públicas, originais, não sujeitas a pré-testagem).

Contudo, tudo isto faz parte de um sistema que é e deverá ser plural e diverso na oferta educativa, naturalmente respeitados os princípios da igualdade e justiça regulados pela tutela.

Certo é que a existência deste ranking único, baseado nos resultados dos alunos em exames, consiste numa muito pobre caraterização das escolas e dos seus projetos. Desejável seria a publicação de outros rankings que avaliassem, por exemplo, os indíces de abandono escolar, taxas de reprovação, geração de valor acrescentado nos resultados escolares, taxas de inclusão social, integração na comunidade e até, provavelmente o mais importante, o ranking da felicidade, já elaborado pela ONU a nível mundial desde 2012.

Concluo com referência a uma atualização do paradigma darwiniano: "Life did not take over the globe by combat, but by networking" (Margulis & Sagan, 1986). A investigação vem demonstrando que a força motriz da evolução dos sistemas biológicos se faz mais através da cooperação do que da competição.

Importará pois reforçar os mecanismos que proporcionem autonomia, diversidade e responsabilidade às escolas, valorizando todos os processos de cooperação.

João Oliveira

Professor de Biologia e Geologia do Colégio da Rainha Santa Isabel, Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia oliveira@ci.uc.pt. O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico.

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