Empresas de Santos Silva trabalham com o Grupo Lena no megaprojecto da Venezuela

A diplomacia económica de Sócrates não salvou apenas o Grupo Lena. O seu amigo Carlos Santos Silva conseguiu na Venezuela a maior facturação dos últimos anos para duas das suas empresas.

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A Venezuela está a construir centenas de milhares de casas, das quais 12.512 serão feitas pelo Grupo Lena DR

Grande parte da facturação de algumas das empresas de Carlos Manuel dos Santos Silva, o amigo de José Sócrates que foi detido na semana passada, tem origem no megaprojecto que o Grupo Lena (GL) está a construir na Venezuela, graças ao ex-primeiro ministro.

O contrato então celebrado — que se encontrava há dois anos num impasse e que Sócrates desbloqueou nos seus encontros com Hugo Chavez em Outubro de 2010 — ascende a 988 milhões de dólares e prende-se com a construção de 12.512 apartamentos e de duas fábricas de lajes de betão.

A concepção e os projectos desse empreendimento, o maior jamais construído por empresas portuguesas no estrangeiro (segundo o GL), foi adjudicada pelo Governo Venezuelano à Proengel II International Projects SA, que por sua vez os encomendou à Proengel, Projectos de Engenharia e Arquitectura Ldª. 

A primeira destas empresas, que começou por ter Carlos Santos Silva como único sócio, é agora uma sociedade anónima da qual o mesmo é presidente do Conselho de Administração. A segunda é uma sociedade por quotas detidas exclusivamente por este engenheiro da Covilhã e constitui o centro nevrálgico de um grupo de mais de uma dúzia de empresas, quase todas de pequena dimensão, que o empresário controla na área dos projectos de engenharia e arquitectura, gestão e fiscalização de obras.

Tal como o PÚBLICO noticiou ontem, Santos Silva partilha com os principais accionistas e gestores do Grupo Lena a administração de uma outra empresa, nbeste caso de consultoria, a XMI, que se dedica essencialmente à angariação de contratos para o GL no estrangeiro e já foi detida directamente por esse grupo. As actuais relações entre o empresário e o conglomerado empresarial de Leiria não se ficam, porém, por essa ligação aos seus accionistas.

E do mesmo modo que foi fundamental para que o GL sobrevivesse à crise dos últimos anos, o negócio da Venezuela assumiu um lugar determinante na actividade do grupo de Santos Silva. Em 2012, ano de arranque do empreendimento na região de Caracas, a facturação da Proengel atingiu 3,5 milhões de euros (contra 1,9  do ano anterior), caindo para 1,5 em 2013. 

Já os seus resultados triplicaram entre 2011 e 2012, passando de 101 mil euros para 302 mil. Em 2013 cairam a pique para 5 900. A empresa, sedeada em Teixoso, junto à Covilhã, mas com o seu escritório principal localizado em Telheiras, emprega 31 pessoas, grande parte delas engenheiros e arquitectos.

No caso da Proengel II, que tem empresas participadas no Brasil, Cabo Verde, Angola e Argélia, mas apenas dois empregados, as vendas passaram de 2,5 milhões em 2011, para 5,6 em 2012 e 8 milhões em 2013. O resultados líquidos, por seu lado, subiram de um milhão em 2011 para 1,5 em 2012 e 3,1 em 2013.

Paralelamente à estreita colaboração existente entre o Grupo Lena e Santos Silva no projecto da Venezuela — que está muito longe de estar terminado (até ao fim do ano passado apenas foram concluídas as duas fábricas e cerca de 900 dos  mais de 15 mil apartamentos contratados) — a Proengel conta, há muitos anos, com o grupo de Leiria entre os seus principais clientes. 

Carlos Santos Silva tem sido apontado como o testa-de-ferro de José Sócrates, que o ajudaria a branquear dinheiros cuja origem está a ser investigada pelo Ministério Público. Os dois homens encontram-se em prisão preventiva e indiciados pelos mesmos crimes: fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.

Em dois comunicados emitidos nos últimos dias, a administração do Grupo Lena, cujo presidente viu a sua casa ser alvo de buscas policiais na semana passada, assegurou que Carlos Santos Silva “não é responsável ou colaborador do Grupo Lena”.

Actualmente concentrado na actividade de projectista, Santos Silva teve no início da sua carreira uma empresa de construção civil, a Conegil, que faliu em 2003 com mais de 20 milhões de euros de dívidas. Esta sociedade esteve envolvida na construção do aterro sanitário da Cova da Beira, cuja adjudicação foi alvo de uma longa investigação judicial, na qual José Sócrates foi visado por suspeitas de favorecimento. Essas suspeitas foram arquivadas pelo Ministério Público em 2007.

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