Dois irmãos são os primeiros britânicos condenados por ligações a grupos terroristas na Síria

Mohommod e Hamza Nawaz foram detidos ao regressarem ao Reino Unido após algumas semanas de treino num campo de radicais no Norte da Síria.

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Mohommod e Hamza Nawaz AFP

Dois irmãos, residentes na área de Londres, são os primeiros britânicos condenados por terem viajado para a Síria para se juntarem a grupos suspeitos de terrorismo. Mohommod e Hamza Nawaz, de 30 e 24 anos, foram detidos ao regressar ao Reino Unido depois de terem passado algumas semanas num campo de treino de radicais.

A condenação – o mais velho a quatro anos e meio de prisão, o mais novo a três – foi conhecida no mesmo dia em que o Governo britânico entregou no Parlamento um projecto de lei para endurecer as leis antiterroristas do país, com o objectivo de travar o fluxo de cidadãos nacionais que têm partido em direcção à Síria para se juntar às fileiras do Estado Islâmico.

A medida mais controversa do projecto – anunciado há duas semanas pelo Governo – prevê que quem combateu ao lado dos radicais seja impedido de regressar ao país pelo período de dois anos, salvo se aceitar ficar sob vigilância dos serviços de segurança e ser julgado pelos crimes que vier a ser acusado. O executivo de David Cameron acredita que a medida é legal, uma vez que oferece uma alternativa a quem deseja regressar. Mas várias organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional, alegam que viola o direito internacional já que quem não aceitar as condições impostas (e não tiver passaporte de outro país) corre o risco de ficar apátrida. Peritos legais questionam ainda o facto de a proposta atribuir ao Ministério do Interior o poder para excluir alguém de território nacional, à margem dos tribunais.

A proposta atribui ainda à polícia poderes para retirar os passaportes de quem planeie ou tente deixar o Reino Unido para se juntar aos jihadistas e obriga as companhias aéreas a fornecerem de forma mais rápida e eficaz as listas de passageiros nos seus voos.

No caso dos irmãos Nawaz, o meio escolhido foi o carro. Em Agosto, sem terem avisado a família, viajaram por estrada até à cidade francesa de Lyon e daí apanharam um avião para a Turquia. No mês seguinte, foram parados pela polícia de fronteiras ao fazerem o percurso inverso. Com eles foram encontradas munições para metralhadoras AK-47 e telemóveis nos quais tinham fotografias que testemunhavam o objectivo da viagem: um campo de treino em Lataquia, no Norte da Síria.

A BBC adianta que num dos vídeos Mohommod e Hamza surgem a atravessar um rio na fronteira com a Síria e quando alguém lhes pergunta a quem se vêm juntar respondem: “Junud al-Shaam”, um grupo também conhecido como Soldados de Damasco. “Estão aqui para a jihad?, perguntam-lhes ao que eles dizem “Sim, para a jihad”. A estação britânica adianta que entre o material presente a tribunal estão fotografias do campo de treino, incluindo uma em que Mohommod surge de camuflado e AK-47 em punho, e notas sobre o dia-a-dia da recruta. Os dois homens não colaboraram com a investigação, nem explicaram porque abandonaram a Síria ao fim de poucas semanas.

A chefe do comando antiterrorista da Scotland Yard congratulou-se com a condenação dos dois irmãos, dizendo esperar que seja a primeira de várias investigadas pela sua unidade. Segundo a BBC, vários outros britânicos que estiveram na Síria ou organizaram a ida de outros para lá aguardam condenação. Já nesta quarta-feira, a polícia britânica deteveum  casal, ele de 20 ela de 19 anos, suspeitos de se terem juntado a grupos terroristas naquele país. Foram detidos no aeroporto de Heathrow, ao desembarcar de um avião proveniente de Istambul.

No entanto, a condenação surge no mesmo dia em que um britânico, detido em Setembro por incitamento ao terrorismo e pertença a grupos ilegalizados, colocou uma mensagem no Twitter a confirmar que está na Síria e a fazer troça dos serviços de segurança britânico. Siddhartha Dhar, detido juntamente com o pregador radical Anjem Choudary, fugiu com a família num autocarro com destino a Paris, um dia depois depois de ter sido libertado sob condição de entregar o passaporte e se apresentar periodicamente na esquadra.  

“Que sistema se segurança fajuto o reino Unido tem de ter para me deixar escapar pela Europa até ao Estado Islâmico (EI)”, disse o britânico, depois de ter colocado uma fotografia sua, segurando num dos braços uma espingarda e noutra um bebé. No Verão, ainda antes de ser detido, disse numa entrevista à BBC que apoiava o EI e planeava juntar-se aos jihadistas.

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