Maioria PSD/CDS prudente, PS entre o silêncio e a consternação

Passos e Portas pediram contenção nos seus partidos sobre a detenção de Sócrates.

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Luís Montenegro reagiu violentamente ao chumbo do BCE à solução do Governo para a CGD Miguel Madeira/Arquivo

A prudência tem marcado as declarações públicas dos sociais-democratas e dos centristas sobre a detenção de José Sócrates. É o resultado de indicações dadas pelos próprios líderes partidários, Passos Coelho e Paulo Portas. Até ao momento, nenhum partido reagiu à decisão de manter o ex-primeiro-ministro em prisão preventiva.

Antes da decisão, mesmo sob o anonimato ninguém arriscava assumir que o escândalo em torno do ex-primeiro-ministro socialista possa vir garantidamente a beneficiar o PSD e o CDS nas legislativas. No PS, as reacções oscilam entre o silêncio, a cautela em separar a política da justiça e alguma consternação.  

“Politicamente ainda é muito cedo para dizer que isto pode vir a beneficiar o Governo”, disse ao PÚBLICO uma fonte parlamentar da maioria. Como o caso afecta a imagem dos políticos em geral pode mesmo dar vantagem aos partidos ou figuras como Marinho e Pinto que “são anti-política”.

A separação entre a política e a justiça tem sido recorrentemente a tónica das declarações dos dirigentes políticos da maioria PSD/CDS. Aliás, no CDS foi dada uma ordem de silêncio geral sobre o caso. No PSD, a indicação da direcção de Passos Coelho é de contenção pública, apesar de o próprio presidente do partido ter deixado escapar num seu discurso uma frase simbólica: “Os políticos não são todos iguais”. Aos jornalistas, no passado domingo, Passos Coelho não quis comentar o caso em concreto. A forma como o PSD vai lidar com o caso é delicada, até porque era insistente a tentativa de "colagem" de Sócrates a António Costa. 

O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, colocou, segunda-feira de manhã, a questão do ponto de vista da percepção pública. “Nenhum de nós pode, de uma forma séria, ignorar aquilo que tem acontecido nos últimos dias tem repercussões ao nível do funcionamento do Estado e da forma como as pessoas o veem, quer internamente, quer externamente”, admitiu o líder parlamentar do PSD em declarações aos jornalistas.

Montenegro argumentou que não era o momento de fazer uma “avaliação em termos finais”. “Nesta fase, em que se iniciam os procedimentos, que não eram do conhecimento da opinião pública, é importante distinguir os dois planos [política e justiça]”, explicou.

"Não era essa a imagem que tive dele"
Entre os socialistas, as reacções à detenção que se ouviram no Parlamento estavam cheias de cautelas. Mas um dos homens próximos de José Sócrates, Vieira da Silva, actual vice-presidente da bancada do PS Vieira da Silva, admitiu ver “com dor” a detenção do ex-primeiro-ministro. “Vejo com dor. Trabalhei vários anos com José Sócrates e a imagem que tive e tenho dele não é a que tem sido divulgada nos últimos dias”, disse aos jornalistas Vieira da Silva, no Parlamento.

“Habituei-me a ver uma pessoa que lutava até às suas últimas forças pela ideia e visão que tinha e queria do seu país”, disse o ex-ministro do Trabalho e da Segurança Social, e depois da Economia, no segundo Executivo de Sócrates. À entrada para o plenário, logo de manhã, Vieira da Silva desejou que tudo aconteça “tão rapidamente quanto a justiça o permita e que José Sócrates “possa ser ouvido e defender-se das suspeitas perante a opinião pública dada a dimensão mediática deste caso”.

Remetendo mais comentários sobre o PS para as declarações de António Costa do passado fim-de-semana, Vieira da Silva reafirmou que os socialistas não renegam o seu passado. "O PS é um partido com uma história, uma tradição, uma memória, um passado, um presente e um futuro. O futuro do PS tem agora António Costa à frente e está bem entregue", declarou.

Ferro Rodrigues, o líder parlamentar, também remeteu para as declarações de António Costa em que manifestou solidariedade relativamente ao ex-primeiro-ministro, mas preferiu acentuar a história de 41 anos do partido e a intenção de construir uma alternativa ao actual Governo.

Outro dos governantes da equipa de José Sócrates, Jorge Lacão, mostrou-se “consternado”, mas sublinhou a importância da “acção política” do PS, remetendo para as declarações do actual secretário-geral do PS.

Também parca em declarações foi Maria de Belém, presidente do PS ainda em funções. “Vejo como uma questão de justiça”, respondeu quando questionada como via o caso do ex-primeiro-ministro. Interrogada sobre se considera que o partido fica fragilizado com este escândalo a uma semana do congresso, Maria de Belém respondeu negativamente. “Uma coisa é a política, outra é a justiça”, acrescentou, entrando para o plenário, onde se discute a proposta de Orçamento do Estado para 2015.

Foi o ex-secretário de Estado Carlos Zorrinho, actual eurodeputado, que acabou por responder à pergunta da eventual fragilização do partido em vésperas de congresso e a dez meses de eleições. “O grande desafio para todos nós é que isso não aconteça e para o país será bom que não aconteça”, disse à Lusa Carlos Zorrinho.

O deputado Miguel Laranjeiro, apoiante de António José Seguro, não quis comentar.

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