“Se não existir igualdade de concorrência, muitas empresas de media não sobreviverão”

Balsemão deixa Conselho Europeu de Editores ao fim de 15 anos. Afirma que os maiores desafios para os media ainda estão para vir.

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Francisco Pinto Balsemão, presidente da Impresa Foto: Enric Vives-Rubio

O aviso é sério: Francisco Pinto Balsemão, fundador da Impresa, dona da SIC e do Expresso, deixou a presidência do Conselho Europeu de Editores (EPC – European Publishers Council) ao fim de 15 anos e diz que, apesar de aquele organismo estar adaptado aos novos desafios do mundo da comunicação, é preciso ter atenção aos novos players do mercado, como os agregadores de conteúdos e as redes sociais. “Se não existir igualdade de concorrência com os novos jogadores que desafiam o jornalismo profissional, muitas empresas não sobreviverão”, adverte.

O EPC é o grupo mais influente de empresas de media de toda a Europa e os últimos 15 anos, admite o próprio conselho, foi um “tempo de revolução digital sem precedentes e de transformação radical na produção, divulgação e consumo de meios de comunicação social a nível global”.

Em respostas escritas às perguntas do PÚBLICO, Balsemão afirma que nos últimos 15 anos os media mudaram de forma “quase irreconhecível”. “Actualmente, uma empresa de comunicação social é um negócio de alta tecnologia que fornece conteúdos ao segundo, em todas as plataformas imagináveis, interagindo com os seus leitores/público numa escala inimaginável antes do advento da Internet.”

Talvez por isso Balsemão avise para esta possível morte iminente. E também por isso defenda: "É essencial que exista um campo de jogo equilibrado para garantir que temos a liberdade de adaptarmos os nossos modelos de negócio ao ambiente da comunicação social, em permanente mudança; a liberdade de competir de forma justa com gigantes tecnológicos ou empresas de comunicação financiadas com fundos públicos; a liberdade de nos podermos regular a nós próprios de forma experimentada, testada e adequada”.

Apesar dos passos que se foram dando – vários países já forçaram a Google a acordos para pagar direitos de autor, a Comissão Europeia tem apertado o cerco às indemnizações compensatórias aos serviços públicos de rádio e televisão, por exemplo –, Francisco Pinto Balsemão considera que “todas estas liberdades foram ou continuam a ser ameaçadas e existe sempre o perigo de uma má regulamentação, se não estivermos atentos”.

Na sua comunicação ao novo colégio de comissários, Balsemão defendeu os “benefícios” do mercado único digital, que deve ser posto ao serviço da diversidade de meios de comunicação social, culturas e línguas que “enriquecem” a União Europeia. “Exorto o novo chefe digital a considerar que não pode haver nenhuma abordagem ‘tamanho único’ em relação a qualquer regulamentação dos meios de comunicação social; as nossas diferenças são os nossos pontos fortes e aquilo que proporciona valor à sociedade. A nossa diversidade deve ser apoiada e alimentada; é ela que sustenta a liberdade de expressão.”

Um dos principais legados de Balsemão é a chamada Linked Content Coalition, que reúne pela primeira vez todos os players da indústria de conteúdos – TV, cinema, fotografia, imprensa, música – e que começaram a trabalhar em conjunto para desenvolverem novas tecnologias para fazer trabalho protegido por direitos de autor para plataformas multimédia na Internet.

Juan Luis Cebrián, chairman da espanhola Prisa, destacou a “contribuição crucial” de Balsemão para o jornalismo e para a política europeia, e elogiou a sua “coragem e tenacidade à frente do EPC, defendendo os “interesses dos editores de jornais em tempos económicos difíceis e durante profundas mudanças tecnológicas”.

“A força do EPC sempre residiu no facto de eu e dos meus colegas directores falarmos com uma única voz. Quando os reguladores e políticos da UE falam com o EPC, estão efectivamente a receber os pontos de vista e feedback de 26 presidentes e directores das principais empresas de comunicação social da Europa. Isto, só por si, já é um impressionante sucesso de trabalho em rede.”

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