Mil mortos num mês e meio de "cessar-fogo" na Ucrânia

ONU admite que abusos atribuídos aos rebeldes podem constituir crimes contra a humanidade. Observadores da OSCE foram visados por disparos numa zona controlada pelo Exército.

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Funeral de um jovem morto em Donetsk Maxim Zmeyev/Reuters

Um milhar de pessoas morreu no Leste da Ucrânia desde que o Governo e os separatistas pró-russos acordaram uma trégua, a 5 de Setembro, revela o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, num relatório em que admite que as violações dos direitos humanos nas zonas controladas pelos rebeldes podem constituir crimes contra a humanidade.

As estatísticas foram divulgadas na mesma altura em que a Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) revelou que um grupo de observadores da missão que monitoriza o cessar-fogo na região foi visado por disparos efectuados numa zona sob controlo do Exército.

Apesar de nenhuma das partes o dar como terminado, o cessar-fogo existe apenas em teoria, violado diariamente por combates e incidentes que, diz agora a ONU, têm feito uma média de 13 mortos por dia. Desde Abril, quando os separatistas se apoderaram das duas maiores cidades do Leste russófono, a guerra matou 4317 pessoas e provocou ferimentos em quase dez mil, revela a ONU.

O relatório do Alto Comissariado da ONU cita ainda dados das autoridades ucranianas, segundo os quais o conflito forçou quase meio milhão de pessoas a sair das suas casas e a procurar refúgio noutros pontos do país – um número que é quase o dobro do registado num balanço feito a 18 de Setembro, dias após a entrada em vigor do cessar-fogo. Aos deslocados internos juntam-se milhares de outros que procuraram refúgio na Rússia.

O documento afirma que, a par dos combates, a região tem sido palco de “graves violações dos direitos humanos cometidas por grupos armados”. “Civis continuam a ser mortos, detidos ilegalmente, torturados e a desaparecerem”, denuncia o relatório, no qual se cita também o caso de dois soldados ucranianos capturados – a um deles foi cortado uma parte do braço onde ele exibia uma tatuagem com a inscrição “Glória à Ucrânia”; ao outro cortaram parcialmente uma orelha.

As duas partes têm sido repetidas vezes acusadas de atentar contra a lei internacional, mas no relatório divulgado nesta quinta-feira o Alto Comissariado sustenta que, nos territórios controlados pelos separatistas, “as violações são de natureza sistemática e podem ser consideradas como crimes contra a humanidade”.

Observadores atacados
O ataque contra os observadores, o primeiro do género a ser denunciado pela OSCE, aconteceu na quarta-feira, quando os observadores viajavam em dois carros numa estrada a 15 quilómetros a oeste de Donetsk. A grande cidade do Leste está em poder dos separatistas pró-russos, mas os disparos aconteceram numa região sob controlo do Exército, adianta a organização.

A caminho do Donetsk, os carros dos observadores aproximaram-se de um camião e, quando estava a cerca de 80 metros, um dos dois homens que seguiam a bordo e envergavam uniformes começou a disparar. “As balas passaram a cerca de dois metros do segundo veículo da OSCE”, revela a organização, acrescentando que os observadores “deixaram imediatamente a zona” por razões de segurança. Os automóveis usados pela OSCE, que mediou o acordo de cessar-fogo e ficou responsável pela sua monitorização, estão habitualmente bem identificados, com o nome da organização inscrito a grossas letras negras sobre a carroçaria branca dos veículos.

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