Preso mais um antigo responsável da Petrobras e executivos de construtoras no Brasil

Pelo menos 18 detenções de suspeitos num total de 27 mandados de captura. Muitos são responsáveis de empresas de construção.

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Operação de investigação à corrupção na Petrobrás continua e atinge grandes construtoras Yasuyoshi Chiba/AFP

As autoridades brasileiras emitiram mais 27 mandados para a detenção de suspeitos na operação Lava Jato, que investiga acusações de corrupção na petrolífera estatal Petrobras. Entre os visados estão nomes ligados à Petrobrás - incluindo um antigo director de Serviços, Renato Duque - e ainda a outras empresas implicadas no escândalo, por exemplo grandes construtoras, disse a polícia sem as nomear.

A imprensa já ia, no entanto, dando algumas indicações de que dirigentes e de que grandes empresas se tratava. Num dos casos, o suspeito, o vice-presidente da grande empresa de construção Camargo Corrêa, um dos maiores grupos privados do Brasil, é mesmo considerado foragido, segundo o diário O Globo.

A polícia indicou que estão envolvidos 300 agentes na operação em cinco estados e no distrito federal na sétima fase da operação. Os sete grupos empresariais envolvidos têm contratos no valor de 59 mil milhões de reais (cerca de 18 mil milhões de euros) com a Petrobras, indicou ainda a polícia federal. Estas empresas pagariam a contactos na petrolífera para conseguirem contratos na maior empresa estatal do Brasil, diz o Estado de São Paulo. A directoria que Renato Duque dirigia terá “lavado” uma percentagem de 2% a 3% de todos os contratos.

No âmbito da operação foram ainda bloqueados 720 milhões de reais (mais de 221 milhões de euros) de 36 investigados.

Operação histórica

O que a polícia federal fez esta sexta-feira entra para a História, comenta o director da redacção de Brasília da Folha de São Paulo, Igor Gielow. “Pela primeira vez, há clareza de todas as pontas e intermediários de uma teia criminosa desta dimensão. Altos executivos das maiores financiadoras de campanha do país foram presos. Foram apanhados corruptos, corruptores, e os agentes que operavam para eles”.

Segundo a Folha, o objectivo não declarado da operação era prender também os corruptores, no caso, os executivos das grandes empresas. Polícias e procuradores, congratulando-se por terem conseguido furar a “blindagem” à volta dos empresários, repetiam a ideia de “passar o país a limpo”. Diz o jornal que manifestaram esperança de que este caso sirva como exemplo: com os corruptores acusados e presos, acreditam, há hipótese de a corrupção deixar de ser endémica no país.

A Petrobras, que devia ter divulgado o seu relatório trimestral na quinta-feira, adiou a publicação, dizendo que precisava de tempo para investigar as alegações de corrupção. 

A operação Lava Jato foi lançada em Março para investigar um esquema de lavagem de dinheiro na Petrobrás. Um antigo responsável da empresa, entretanto preso e que fez um acordo para obter benefícios em troca de informações dadas às autoridades, disse que o dinheiro não declarado era canalizado para o Partido dos Trabalhadores (PT) da Presidente, Dilma Rousseff, e para os seus aliados no Congresso. O escândalo marcou a campanha eleitoral para as eleições que Dilma acabou por vencer.

Segundo o Estado de São Paulo, não há políticos envolvidos nesta fase de investigação.

Por isso, acrescenta Igor Gielow, da Folha, falta “a cereja no topo do bolo: os políticos que beneficiaram do esquema”. O jornalista diz que “o clima em Brasília é de pânico”. O líder da oposição e candidato presidencial derrotado Aécio Neves reagiu também dizendo que “há muita gente sem dormir em Brasília”.

Dilma Rousseff estava a viajar para a Austrália quando a notícia das detenções rebentou.

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