Henry Jackson estava no sítio certo à hora certa. Estava em Nova Iorque e ali, a partir do Bronx onde nascera, acompanhara o nascimento do hip hop, género novo fervilhando nas ruas da cidade. Ele estava lá, trabalhando como segurança nas festas onde os primeiros MCs e os DJs mostravam os seus talentos, ou actuando como manager de um grupo que viria a ser os pioneiros Cold Crush Brothers.

Henry Jackson estava, portanto, no sítio certo. A hora chegou quando Sylvia Robinson, fundadora da editora Sugar Hill Records, se juntou ao filho Joey para encontrar um grupo que passasse para o vinil a nova linguagem musical. Henry Jackson, sob o pseudónimo Big Bank Hank, faria parte dele. Juntamente com Wonder Mike e Master Gee formaria os Sugarhill Gang. Em 1979, com Rapper’s delight, que gravaram num par de takes sobre o instrumental de um êxito dos Chic, Good times, o hip hop anunciou-se ao mundo. Big Bank Hank estava lá e a sua carreira viria a ser definida por aqueles 14 minutos de música de que foram vendidos milhões de cópias, subindo ao Top 40 da tabela de vendas americanas.

Quando esta terça-feira foi noticiada pela Rolling Stone a sua morte aos 57 anos, provocada por um cancro, foi a esse momento fundador que todos regressaram. Estar no sítio certo à hora certa naquele dia de 1979 definiria para sempre a carreira de Big Bank Hank. “Num minuto estás a descer a rua, no seguinte tens guarda-costas e és perseguido”, contou em Yes Yes Y’all, livro de Jim Fricke que conta a história dos primeiros dez anos do hip hop.

Os Sugarhill Gang mergulhariam na obscuridade com a mesma rapidez com que haviam ascendido ao estrelato – a rápida evolução do hip hop levou a que, menos de meia década depois da edição de Rapper’s delight, o seu som baseado nos ritmos disco fosse visto como ultrapassado. Apesar da controvérsia que rodeou a canção (a utilização da música dos Chic sem permissão dos mesmos; a acusação de rapparem rimas plagiadas a Granmaster Caz, dos Cold Crush Brothers), ela manteve-se uma presença constante na memória histórica do hip hop – e com ela, consequentemente, o nome de Big Bank Hank.

O trio gravaria ainda 8th wonder ou Apache antes de se separar em 1985. Após a separação Hank afastar-se-ia dos dois companheiros, actuando sob o nome Sugarhill Gang com Joey Robinson, filho da mulher que lhe garantira uma carreira e proprietário do carro onde, em 1979, Hank fizera a audição que o levaria a entrar na história do hip hop. “Tivemos a capacidade de transcender gerações e isso é um dom. É uma benção e estou agradecido por ela”, declarou o ano passado ao Herald Mail de Maryland, citado em obituário pela Rolling Stone.

Num comunicado enviado à revista, os seus antigos companheiros Wonder Mike e Master Gee escreveram: “Fizemos história musical com a edição de Rapper’s delight. Recordaremos para sempre termos conhecido o mundo juntos e termos ‘rockado’ as salas. Descansa em paz, Big Bank”.