Médicos pedem mais consultas de cessação tabágica para acabar com listas de espera

O tabaco mata mais de 650 mil pessoas por ano na União Europeia e só em Portugal estima-se qua haja mais de dois milhões de fumadores, embora sejam cada vez mais as pessoas que procuram ajuda para deixar de fumar.

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Na quinta-feira, foi lançado o 1º Curso de e-learning para formação na área da cessação tabágica EVA CARASOL/Arquivo

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) quer mais consultas de cessação tabágica nos hospitais e centros de saúde para acabar com as listas de espera de meses que os fumadores enfrentam para deixarem de fumar. Além disso, defende um maior envolvimento dos médicos de medicina geral e familiar na prevenção e no encaminhamento dos seus doentes para as consultas de cessação tabágica.

"Existe uma lista de espera significativa nas consultas de cessação tabágica. É precioso disseminar as consultas para que haja maior acessibilidade da população. Não é compreensível que quem quer deixar de fumar esteja meses à espera", disse à Lusa o médico Robalo Cordeiro, presidente da SPP. Por isso, considera fundamentais os cuidados de saúde primários, mas é a este nível "que a prevenção faz sentido".

"O médico de família é o que tem maior proximidade com o doente conhece-o numa perspectiva global e é nessa perspectiva que o tabaco deve ser abordado e não apenas na vertente da doença respiratória", defende. Também porque o tabaco é uma questão de saúde pública e por isso faz sentido a proximidade dos cuidados primários, considerou.

Para Robalo Cordeiro, é preciso aumentar a acessibilidade e a facilidade de recurso a essas consultas. "Não existe um número suficiente de consultas para permitir acesso de todos doentes", sublinhou, descartando a possibilidade de centrar a consulta para deixar de fumar no médico de família. Este é importante para o aconselhamento, para a prevenção, para o encaminhamento e para uma intervenção breve, mas deve haver a consulta específica e diferenciada, porque se trata de uma "consulta peculiar, uma intervenção dirigida, que exige formação específica", destacou o médico.

Reconhecendo a dificuldade de combater esta dependência, a SPP afirma que por vezes só é possível ter sucesso com uma intervenção multidisciplinar.

Ana Figueiredo, presidente da Comissão de Tabagismo da SPP considera que "é fundamental tratar a dependência tabágica de uma forma multidisciplinar. Deixar de fumar é um processo que envolve inúmeras áreas da saúde passando pela pneumologia, psicologia até à nutrição".

Nesse sentido, foi lançado na quinta-feira, no XXX Congresso de Pneumologia, o 1º Curso de e-learning para formação na área da cessação tabágica.

O tabaco mata mais de 650 mil pessoas por ano na União Europeia e só em Portugal estima-se qua haja mais de dois milhões de fumadores, embora sejam cada vez mais as pessoas que procuram ajuda para deixar de fumar. A prevalência do tabagismo em Portugal situa-se nos 23%, segundo dados do Eurobarómetro 2013, mas estudos portugueses apontam para um aumento da prevalência nos jovens. Apesar destes dados, o tabagismo continua a ser um tema pouco debatido e pouco ensinado, em todas as áreas da saúde, lamentam os responsáveis da SPP.

Em Portugal tem havido um esforço importante no sentido de aumentar o número de consultas de cessação tabágica, quer a nível hospitalar, quer dos Centros de Saúde, mas é "notoriamente insuficiente, havendo ainda regiões do país em que o número de consultas é muito baixo ou mesmo inexistente".

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