Terão as passadeiras rolantes magnéticas pés para andar?

Tecnologia do comboio magnético Transrapid foi adaptada a uma passadeira rolante, que pode atingir mais de dez quilómetros por hora. No futuro, poderemos chegar mais depressa às estações de metro ou aos terminais nos aeroportos.

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Michaela Rehle/Reuters

Pode uma passadeira rolante acelerar e desacelerar mantendo, ao mesmo tempo, uma velocidade constante? A resposta é não, mas a empresa alemã ThyssenKrupp apresentou uma passadeira inovadora na qual as pessoas entram à velocidade de 2,3 quilómetros por hora, que acelera geralmente até aos 7,2 quilómetros por hora e que reduz para os mesmos 2,3 quilómetros por hora quando se aproxima da saída.

O PÚBLICO experimentou este tapete magnético e constatou que o aumento de velocidade é notório quando, mesmo parado, se começa a sentir uma brisa no rosto. Se se andar sobre a passadeira, então a caminhada parece vertiginosa porque a paisagem ao lado desfila rapidamente. Quase sem se dar por isso, anda-se a uma velocidade entre dez a 12 quilómetros por hora, que é o dobro da marcha humana.

“Isto é magia”, dizem, sorrindo, os engenheiros da ThyssenKrupp, antes de explicar como é que se consegue ter diferentes velocidades numa passadeira rolante que, obviamente, só pode ter uma velocidade constante. O segredo está nas placas de alumínio de grande dimensão que constituem este tapete e que se sobrepõem, alargando ou reduzindo o seu tamanho, no momento de entrar ou sair na passadeira.

É isto que explica outra sensação ao circular no novo invento: o “chão” a esticar e a encolher debaixo dos pés quando se inicia e se termina a viagem. Nada, porém, que perturbe o equilíbrio do utilizador.

Isto só é possível porque, em vez do sistema mecânico das passadeiras rolantes actuais, o Accel – como se designa este novo produto da multinacional alemã – move-se através de motores de levitação magnética instalados em cada placa. Cada 100 metros de percurso têm 285 pequenos motores instalados, que asseguram o funcionamento da passadeira.

Ideia inovadora
Desde os anos 1960 que é conhecida a tecnologia da levitação magnética. Alemães por um lado, japoneses por outro, tentaram aplicá-la a um comboio de alta velocidade que poderia circular a velocidades superiores a 400 quilómetros por hora. E, assim, na década de 1990, foi inventado o comboio magnético: o Transrapid, na Alemanha, e o Maglev, no Japão, mas sem grande aplicação comercial.

Estes comboios funcionam com os chamados “motores eléctricos lineares”, constituídos por ímanes, ou magnetos, sendo desta forma impulsionados pelas forças atractivas e repulsivas do magnetismo. Mas os primórdios desta tecnologia são muito mais antigos e remontam ao trabalho sobre os motores eléctricos lineares de Charles Wheatstone, na década de 1840, no King's College de Londres, ainda que na altura fossem muito pouco eficientes.

A primeira tentativa de aplicar um motor eléctrico linear a uma máquina real aconteceu nos anos 1950 em Inglaterra, quando Eric Laithwaite tentou fazê-lo funcionar em teares eléctricos. A experiência resultou suficientemente bem para que o Imperial College de Londres então o designasse como o motor das máquinas eléctricas do futuro.

Mas a verdade é que esse futuro tardou em chegar. Foi preciso esperar pela invenção dos comboios de levitação magnética. No fim do século XX, a agência espacial norte-americana NASA também se interessou por esta tecnologia para criar rampas de lançamento de veículos para o espaço. Uma pista de 1,5 quilómetros de comprimento dotada com motores lineares permitiria acelerar um veículo a quase 1000 quilómetros por hora em 9,5 segundos, lançando-o para o espaço. A economia em termos de combustível seria óbvia, mas a ideia nunca avançou.

Em Emsland (Hamburgo), na Alemanha, um consórcio que inclui a ThyssenKrupp e a Siemens, entre outras empresas, possui uma pista de ensaios de 31,5 quilómetros na qual um comboio Transrapid circula a 400 quilómetros por hora.

Embora na China já exista um comboio destes a ligar o aeroporto de Xangai ao centro da cidade, esta tecnologia não logrou um grande sucesso comercial. O TGV e os outros comboios de alta velocidade, circulando sobre carris, acabaram por levar a melhor sobre este sempre adiado “comboio do futuro”.

Até que a ThyssenKrupp teve uma ideia diferente: a aplicação do conceito de levitação magnética às passadeiras rolantes. Enquanto há anos todos julgavam que o caminho lógico era o Transrapid, uma ideia inovadora posicionou esta tecnologia numa outra direcção.

Da ideia à prática demorou-se 20 meses de trabalho no centro de investigação que a empresa possui em Gijón (Astúrias, Espanha) e onde o invento foi apresentado ao mundo no final de Outubro, durante uma sessão que reuniu jornalistas e potenciais clientes dos quatro continentes.

A empresa fez o trabalho de casa. Encomendou um estudo que prova que a atracção das estações de metro se esgota nos 500 metros e que a partir dessa distância as pessoas têm tendência a optar por outros modos de transporte (normalmente o carro ou o autocarro), apesar de com isso contribuírem para o congestionamento urbano.

O Accel aparece assim como uma forma de aumentar a proximidade às estações de metro, pois é possível construir corredores de 500 ou 1000 metros em que as pessoas “podem tranquilamente deslocar-se, estando paradas, a 7,2 quilómetros por hora, lendo as suas mensagens no telemóvel, ou, se estiverem com pressa, caminhando a dez ou mais quilómetros por hora”, conforme disse Andreas Schierenbeck, presidente mundial da ThyssenKrupp.

Esta inovação pode também ser aplicada para ligar linhas e estações de metro, evitando os longos percursos por entre os corredores subterrâneos. Mas terá sobretudo grande aplicabilidade nos aeroportos. Aliás, não foi inocente a escolha de um actor asiático no vídeo de apresentação do produto que a Thyssen mostrou em Gijón. Os maiores aeroportos do mundo, com terminais que distam três quilómetros uns dos outros, estão a Oriente.

A comercialização começa agora. E ditará o sucesso desta inovação. Tem havido várias tentativas de instalar passadeiras rolantes magnéticas, com diferentes velocidades. Mas não têm tido sucesso, devido a problemas técnicos e de segurança.

Por exemplo, uma passadeira que se movia a grande velocidade na estação de metro de Montparnasse, em Paris, foi obrigada a parar em 2009, devido a ferimentos que provocava e problemas de funcionamento, relata o jornal britânico “Financial Times”. Inicialmente, deslocava-se a 12 quilómetros por hora, depois, antes da paragem, a sua velocidade ainda chegou a ser reduzida para nove quilómetros por hora, porque os passageiros estavam sempre a cair. A única passadeira destas em funcionamento está agora no aeroporto internacional de Toronto, no Canadá, e a sua velocidade máxima não ultrapassa os sete quilómetros por hora. Instalada lá em 2007 pela ThyssenKrupp, a empresa garante que os seus engenheiros aumentaram a segurança das passadeiras rolantes magnéticas.

Questionado sobre o preço deste novo produto, Ramon Sotomayor, presidente da ThyssenKrupp Espanha, foi claro: “Isto está entre uma passadeira rolante e um transporte automatizado, por isso o seu preço também é intermédio e terá de ser estudado caso a caso.”

A tecnologia dos motores lineares, desde que deixou de ser vista como só aplicável aos comboios de alta velocidade, tem agora em aberto novos caminhos. A Thyssen é conhecida pelos elevadores e, no futuro, estes poderão levitar em vez de serem içados por cabos. E nada impede que os ascensores venham a poder deslocar-se na vertical e na horizontal viajando dentro dos edifícios. Algo que poderá mudar a maneira como os prédios (sobretudo os arranha-céus) podem vir a ser construídos no futuro.

O PÚBLICO viajou a convite da ThyssenKrupp

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